O crescimento populacional acelerado e a alta concentração de pessoas nas cidades impõem grandes desafios à mobilidade urbana. Hoje, metade dos sete bilhões de habitantes do planeta já vivem em metrópoles e a projeção da Organização das Nações Unidas (ONU) é que esse índice chegue a 70% em 2050. Garantir que todas as pessoas consigam fazer seus deslocamentos diários de forma rápida, eficiente e sustentável ainda é um ideal longe de ser alcançado em muitos lugares do mundo.
Moradora de São Paulo, a técnica de enfermagem Patricia Oliveira demora até quatro horas de deslocamento para chegar ao trabalho. “Você se sente cansado, irritado, frustrado e não pode fazer nada”, desabafa. “Um sistema de mobilidade sustentável mais justo precisa ter investimentos no transporte público de alta capacidade, média capacidade e com qualidade. E que esse transporte público de qualidade chegue na periferia das nossas cidades. Isso significa justiça”, defende o arquiteto e urbanista Victor Andrade, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Apesar de associado frequentemente apenas às questões ambientais, o conceito de mobilidade urbana sustentável engloba um tripé de ações, que incluem também aspectos sociais e econômicos.
Na América Latina, a maior fonte de emissão de gases de efeito estufa são os meios de transporte. Por isso, não é possível dissociar os problemas de mobilidade das mudanças climáticas, explica Ilan Cuperstein, vice-diretor para América Latina da organização C40. A rede internacional é formada por mais de 90 cidades que se comprometeram a zerar as emissões até 2050. “Para isso, várias mudanças drásticas têm que ser feitas: utilização apenas de veículos limpos; maior uso do transporte não motorizado, através de bicicletas, mais viagens a pé, patinete; todo tipo de transporte novo”, argumenta.
Segundo os especialistas, os novos modais não são a solução para os problemas de mobilidade. Eles são parte da solução. É o caso da bicicleta, mas também de novos sistemas como o BRT (Transporte rápido por ônibus) - uma criação de Curitiba que ganhou o mundo - ou o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), do Rio. O projeto carioca seguiu a tendência mundial de humanizar os grandes centros, tornando-os mais amigáveis para os pedestres. “Evidentemente o automóvel esgotou, e as novas gerações já não têm o mesmo sonho de ter um primeiro automóvel. Eles se viram muito bem com o Uber, taxi, caronas, de outra maneira. Lentamente, a cultura está mudando e é necessário aproveitar essa mudança para traçar um projeto de futuro”, aposta o filósofo Rogério da Costa, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Ficha técnica
Reportagem: Marcelo Castilho
Edição de texto: Luciana Góes e Renata Cabral
Edição de imagem: Eric Gusmão
Produção executiva: Samantha Ribeiro
Produção: Natália Neves
Imagens (RJ): João Victal e Gilson Machado
Apoio (SP): Aline Beckstein, Eduardo Viné Boldt e Mauricio Aurelio Marcelo
Apoio (DF): Gracielly Bittencourt, Naitê Almeida, Pollyane Marques, Osvaldo Alves, José Carlos, Rogério Verçoza e Alexandre Souza
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