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Radialista Mara Régia é entrevistada do Conversa com Roseann Kennedy

“O rádio é o ar que eu respiro”, declara a radialista

Conversa com Roseann Kennedy

No AR em 13/11/2017 - 21:30

Publicitária, jornalista e radialista, Mara Régia Di Perna é a voz de centenas de mulheres do país. No comando do 'Viva Maria', programa da Rádio Nacional da Amazônia que tem mais de 35 anos no ar, e do programa 'Natureza Viva', prestes a completar 25 anos, ela redescobre o Brasil profundo por meio das cartas que recebe de vários ouvintes. Com foco nas questões de gênero, cidadania e meio ambiente, ela leva informação às mulheres da Amazônia, com serviços sobre saúde, direitos reprodutivos e combate à violência doméstica.

Roseann Kennedy e Mara Régia

Roseann Kennedy e Mara Régia - Divulgação

“O Viva Maria representa esse compromisso com as mulheres”, declara. Para Mara, muitas delas estão imersas na dor e no silêncio e precisam ter uma alavanca, alguém que esteja dizendo todo dia: “Olha, você não tem que sofrer calada. Bater, xingar, rasgar documento, tudo isso é violência e você não tem que aceitar isso”.

O seu inconformismo em relação à violência vem desde os tempos de criança. “Infelizmente eu tive um pai agressor por conta da doença do alcoolismo. Por isso, passei minha infância chorando a dor de ver a minha mãe apanhar em casa. Isso me marcou muito, eu tinha uns 8 anos de idade, quando diante de mais uma das surras, eu, meu irmão e minha mãe tivemos que sair com pijama às três horas da manhã para a rua porque ele não queria nossa presença em casa. Foi muita dor, muito sofrimento. Aí eu fechei os olhos e falei: 'Eu quero crescer para fazer alguma coisa para que as mulheres nunca mais tenham que apanhar' .

E ao comentar algumas reportagens sobre violências sexuais no país, Mara faz uma revelação dolorosa de um outro episódio vivido por ela. “Estupro é um capítulo da violência contra a mulher que pra mim é muito caro, porque eu também já fui vítima dessa violência”. E lamenta que ainda hoje no país muitas vezes a mulher vítima do estupro é colocada no banco dos réus.

Feminista, mãe e avó, Mara Régia é uma das vozes mais ouvidas e queridas dos povos da floresta. É intensa na luta pelos direitos humanos e está na lista das mil mulheres do mundo indicadas ao prêmio Nobel da Paz em 2005.

Há quase 30 anos ela faz programas de capacitação no rádio usando a sua experiência em comunicação comunitária para realizar centenas de oficinas com as mulheres amazônicas, onde o feminino de todos os cantos se reúne para contar, cantar, bordar e falar da vida, dos filhos e dos maridos que não amam direito. Sobre essas agressões, sente-se orgulhosa de sua luta e parcerias: “Quando você tem esse presente da vida de encontrar uma Maria da Penha e junto com ela lutar para fazer uma lei de enfrentamento à violência doméstica, você justifica a sua existência. Porque a mulher é matriz. É na mulher onde os ciclos da vida se fazem de uma maneira mais contundente e se refletem na humanidade”.

Jornalista e radialista Mara Régia

Jornalista e radialista Mara Régia - Divulgação

Não há assunto complicado para Mara Régia, que pela rádio passa informações de forma aberta e simples. Para isso, ela conta causos, inventa radionovelas, dramatiza e brinca com a própria voz, que atravessa igarapés, curvas de rios, matas e cachoeiras até chegar às comunidades mais distantes. Desta forma, ela faz o Brasil de lá, chegar perto do Brasil de cá. E vice-versa. Em tempos onde a rapidez das redes sociais é cada vez mais frenética, Mara diz sentir uma certa tristeza ao perceber que o ambiente virtual também é palco para a violência social e a intolerância. E compara: “Acho que Santos Dummont deve ter pensado a mesma coisa quando fez o avião: 'Poxa, estão usando para a guerra'... Mas realmente é lamentável que a gente com uma ferramenta desse porte não determine um campo onde a defesa dos direitos humanos fosse o protagonismo”.

Mara define o rádio como o ar que ela respira. E através dele ela cultiva uma relação profunda de respeito com a natureza, com os rios e os povos da floresta, dando visibilidade ao Brasil pouco conhecido, das parteiras, ribeirinhas e mulheres anônimas. Sempre com um sorriso no rosto, a mulher-coração planta sonhos e conhecimento nas comunidades amazônicas.

Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil.

Criado em 13/11/2017 - 10:10

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