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Roseann Kennedy conversa com a cantora Liniker

Sensação da black music, cantora conta sua trajetória e conquistas

Conversa com Roseann Kennedy

No AR em 19/03/2018 - 21:15

É difícil ficar indiferente à banda 'Liniker e os Caramelows', considerada a nova sensação da black music brasileira. Encabeçado pela cantora Liniker, o grupo investe nas canções autorais e mescla R&B, soul e blues. O sucesso veio pela internet com a música 'Zero', lançada em 2015 no EP 'Cru', com quase 15 milhões de visualizações no Youtube. Em 2016, com o financiamento coletivo de fãs, veio o primeiro disco, 'Remonta'. A partir daí, surgiram turnês pelo Brasil, França, Alemanha, Inglaterra, EUA, Portugal, Espanha e Colômbia.

Com apenas 22 anos, Liniker, a vocalista do grupo, tem se destacado no cenário musical por seu talento e protagonismo. Nascida em uma família de músicos e natural de Araraquara, interior de São Paulo, Liniker de Barros Ferreira Campos, ou simplesmente Liniker, misturava no início da carreira o bigode com a saia, o turbante e o batom para reafirmar a sua identidade de gênero.

“Fico muito feliz de ter nascido com esse dom, com esse propósito de a minha voz ser um instrumento da minha vida”, diz Liniker
“Fico muito feliz de ter nascido com esse dom, com esse propósito de a minha voz ser um instrumento da minha vida”, diz Liniker - Divulgação

“As pessoas sempre me perguntam: 'Você é uma travesti ? É uma mulher trans?'”. Sobre esses questionamentos, a cantora fala com tranquilidade e conta a sua trajetória de transformação. “A questão da transição foi mesmo uma aceitação dentro de mim”. Para Liniker, à medida que foi descobrindo o próprio corpo sem preconceitos pôde perceber que não precisava estar condicionada a ideias pré-concebidas, e relembra: “Quando eu saio para morar sozinha e conheço outras travestis, quando eu conheço outras mulheres transexuais e homens transexuais, eu começo também um processo de representatividade, de me enxergar naquilo. De falar que eu não sou um menino, eu sou uma mulher”.

Tendo o amor e a música como bandeiras, Liniker descobriu que a sua mensagem era potente e capaz de transformar as pessoas. Em setembro de 2017, durante o Rock in Rio, agitou o palco Sunset com um beijo na boca do cantor Johnny Hooker ao fim da música 'Flutua', composição feita em parceria pelos dois artistas. O show também criticou a onda de violência contra as pessoas LGBTs no mundo. Sobre este episódio, ela revela: “Só o fato de ser uma travesti num palco como o Rock in Rio, ocupando os lugares que eu venho ocupando hoje, fazendo os shows que eu tenho feito, já é extremamente importante e legitima a minha existência e faz com que outras meninas também possam existir no nosso país e no mundo”.

A vontade de falar de seus sentimentos, das relações humanas e do amor tiveram como resultado músicas delicadas com roupagem dançante. Sobre isso Liniker reflete: “Poder transformar as minhas questões musicalmente é incrível. Eu acho que na música é o momento em que eu estou mais transparente com tudo. É o momento em que eu mais consigo me conectar com as coisas, que até quando estou sozinha eu não consigo. Cantando, esse estado chega”. Em suas apresentações, a cantora também acrescenta elementos cênicos herdados de suas aulas de teatro, conhecimento que fez um diferencial em sua carreira. “Foi uma experiência muito importante na minha vida porque foram dois anos de muito aprendizado, de muita cara na rua. Eu passava chapéu na rua para conseguir pagar o aluguel, para conseguir comer”.

Ao relembrar essa trajetória de dificuldades, Liniker discorda daqueles que dizem que o seu sucesso veio rápido e rebate: “Muito pelo contrário. Tanto eu, quanto cada pessoa da banda estava pautando muito a arte para poder chegar a algum lugar”.

Roseann Kennedy conversa com a cantora Liniker
Roseann Kennedy conversa com a cantora Liniker - Divulgação

Se o trabalho árduo é a base para as conquistas que 'Liniker e os Caramelows' têm colhido ao longo da carreira, a cantora diz não se surpreender com o sucesso. Mas se diz admirada quando o assunto é reconhecimento internacional. “Eu nunca tinha ido para país nenhum e hoje eu já perdi as contas de quantas vezes eu viajei. É muito gostoso poder atravessar essa barreira no nosso país e poder atravessar um pouco a cultura desses outros lugares, desses outros continentes e fazer a nossa arte ser presente. Fazer a nossa arte ser pautada em lugares onde a gente nunca achou que a gente fosse estar, por condição social, por condição histórica. Chegar lá e ver as pessoas cantando o nosso som é uma coisa surreal”, comemora.

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Criado em 15/03/2018 - 11:05

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