Uma das personalidades brasileiras mais influentes no mundo, a geneticista carioca Lygia da Veiga Pereira, professora da Universidade de São Paulo (USP) que desenvolveu a primeira linhagem de células-tronco embrionárias de multiplicação in vitro no Brasil, diz não haver como ser competitivo fazendo ciência de ponta no país. Em entrevista ao Espaço Público, ela queixa-se do excesso de burocracia. Segundo Lygia, a reclamação não é nova. Ao contrário, tem sido feita por gerações e gerações de cientistas, sem sucesso.
O principal nó, aponta, está na importação de equipamentos e material - como reagentes -, que costuma levar até três meses, tempo em que as pesquisas ficam paradas. Segundo ela, nos Estados Unidos, esse prazo é de um dia. Lygia prevê que a ciência brasileira já avançaria bastante se reduzisse a demora para duas semanas. A cientista cobra vontade política do governo para resolver a questão, seja reunindo os órgãos envolvidos – como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Receita Federal – para discutir uma saída, seja contratando uma empresa de consultoria que indique a solução.
Referência nas pesquisas brasileiras numa das áreas de ponta da medicina mundial, Lygia integrou o grupo de cientistas que criou o primeiro camundongo transgênico em laboratórios brasileiros. É, ainda, chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias, tendo sido uma das protagonistas do debate nacional que levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a liberar, oito anos atrás, as pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil.
Nascida no Rio de Janeiro, em 1967, Lygia da Veiga Pereira formou-se em Física pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), fez doutorado em Genética Humana Molecular na Escola de Medicina Mont Sinai, de Nova Iorque, e pós-doutorado pelo Instituto de Biociências da USP. Escritora, é autora dos livros “Sequenciaram o genoma humano, e agora?” e “Clonagem: fatos e mitos”. Sua atuação mais específica é nas áreas de genética humana e médica.
O Espaço Público é apresentado pelo jornalista Paulo Moreira Leite. Na entrevista com a geneticista carioca, também estão na mesa a professora de medicina da Universidade de Brasília (UnB), Juliana Mazzeu e a editora-chefe da Agência Brasil, Lana Cristina.
Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil.