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Mídia em Foco traça panorama sobre as histórias em quadrinhos

HQs estimulam a leitura e fomentam novas produções em outras mídias

Presentes nas mais diversas mídias, as histórias em quadrinho criam uma relação intensa com leitores de todas as idades. Para investigar essa magia das HQs, o programa Mídia em Foco discute o assunto com especialistas nesta segunda (30), às 22h45, na TV Brasil.

A atração jornalística apresenta por Paula Abritta recebe o quadrinista Marcelo D'Salete, o jornalista Paulo Ramos e o editor Sidney Gusman. Os convidados refletem sobre a linguagem dos quadrinhos, analisam perspectivas atuais e apontam para tendências.

O Mídia em Foco revela que a leitura de HQs nos meios digitais cresce, mas as revistas impressas ainda têm poder. A atração da TV Brasil mostra também que nunca foram produzidos tantos filmes, séries, games, documentários e realities ligados aos quadrinhos. São sinais positivos para o futuro da nona arte no mercado brasileiro e no exterior.

Os especialistas abordam a importância de produções infantis da Disney, no exterior, e obras nacionais da Turma da Mônica. Também destacam as obras sobre super-heróis como Batman, Mulher Maravilha e Super Homem. Ainda aborda algumas HQs que extrapolaram o limite dos quadrinhos como "The Walking Dead".

As histórias em quadrinhos contribuem na formação de inúmeros leitores e estimulam legiões de fãs de vários personagens das HQs. A linguagem dessas obras traz características que as diferenciam e aproximam de outras mídias. As publicações mais atuais como as graphics novels também são assunto no âmbito do mercado internacional.

Linguagem e recursos característicos dos quadrinhos

O jornalista e professor Paulo Ramos caracteriza as HQs. "Os quadrinhos formam uma linguagem autonoma que dialoga com outras. A gente bate o olho e já percebe o que é por causa de seus recursos peculiares: balão, enquadramento, quadrinho, corte entre um quadro e outro". O convidado cita o diálogo com o teatro, a literatura e outras formas de arte.

Paulo aprofunda essa relação com a sétima arte. "Os quadrinhos foram muito influenciados pelo cinema, mas a recíproca também é verdadeira. Questões de enquadramento, por exemplo. Ângulos de cima pra baixo existiam nos quadrinhos bem antes de ter no cinema. A película tinha aquele 'movimento parado' ou só enquadramento fixo", pondera.

Editor da Maurício de Sousa Produções, Sidney Gusman pontua um aspecto que facilita a diferenciação para entre os quadrinhos e os livros. "O quadrinho trata sempre da relação do texto-imagem. Quando você está lendo um livro, você imagina o que a cena que está sendo proposta, enquanto o quadrinho já te sugere, ele mostra a cena".

O professor, quadrinista e ilustrador Marcelo D'Salete ressalta a importância das narrativas na constituição das HQs. "O quadrinho é uma mídia que trabalha com imagem e texto. Atua nessa junção de imagens em sequência que contam histórias. Às vezes com texto, às vezes sem ele, mas sempre contam narrativas", afirma.

Efervescência de gêneros no país

Os convidados do mídia em foco analisam o desenvolvimento dos quadrinhos no Brasil nas últimas décadas. "Para entender o mercado nacional de quadrinhos hoje, é necessário fazer um corte para conhecer como ele era antes", explica Paulo Ramos que cita uma pesquisa de 1967, do professor José Marques de Melo, que fez um mapeamento de como os quadrinhos eram vendidos no país.

"Naquela época, a predominância eram dos quadrinhos vendidos em banca, no formato revista e muito do conteúdo era norte-americano. Os principais gêneros eram infantis, super-heróis e terror", conta o jornalista.

O panorama dessa era tem a participação de um dos autores mais queridos do país. "Nesse cenário dos quadrinhos ganharem público, o Brasil tinha uma tradição grande de quadrinhos de terror e tiras de jornais", antecipa Sidney Gusman. O editor ressalta as publicações do cão Bidu feitas por Maurício de Sousa.

"Ele começa a publicar nos anos 1960 e não aguenta. Ele faz revistas durante 8 meses sozinho ganhando um salário mínimo por revista. Só volta nos anos 1970 com uma equipe de roteirista e desenhistas", pontua sobre a obra que deu vida a Turma da Mônica.

Sidney Gusman comenta essa conquista de território nacional. "O Maurício começa a trajetória de um brasileiro contra o mercado americano em que a Disney dominava a banda. Em dez anos, ele reverte o jogo", comenta sobre a disputa das revistinhas de personagens como Mickey e Pato Donald com as da turminha formada por Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali.

O editor comenta ainda o advento de outras frentes das HQs no país. "Nos anos 1980 ocorre boom criativo em outra área. Enquanto o Maurício estava no infantil, do outro lado surgiam obras como 'Piratas do Tiete' e uma turma formada por Laerte, Angeli, Glauco e Fernando Gonsales um pouco mais tarde. O Brasil começava a volta a ter efervescência em mais de um gênero".

O quadrinista Marcelo D'Salete explora outros estilos que também ganharam espaço. "Tive contato com histórias em quadrinhos não serializadas. Tramas fechadas de autores que traziam questões mais contemporâneas, juvenis e adultas, como Frank Miller, Alan Moore e os mangás japoneses, como Akira", exemplifica.

Ele explica a diferença dessas HQs. "Eram histórias com começo, meio e fim. Elas traziam narrativas dinâmicas que tratavam de questões sociais e da nossa realidade", afirma Marcelo que ainda cita autores nacionais como Lourenço Mutarelli.

Quadrinhos ganharam as telas da TV e do cinema

Os convidados salientam que diversos HQs deram origens a séries de televisão e sequências de filmes no cinema. O Mídia em Foco apresenta uma rápida amostragem de trilogias de produções da sétima arte com personagens de empresas como Marvel e da DC Comics.

"Tem muito título que é publicado em quadrinho e vira filme e o pessoal acaba nem sabendo. O cinema vai atrás de conteúdo bom que é adaptável para outra mídia. Cinema e quadrinhos são mídias irmãs. O quadrinho já é quase um storyboard", opina Sidney Gusman sobre os longas de ação norte-americanos que batem recordes de bilheteria.

A televisão também se aproveita desse conteúdo de acordo com o jornalista Paulo Ramos. "Na década de 1960, essa relação dos quadrinhos com o cinema migra também para a televisão. A gente vê o seriado do Batman, em 1966, como um exemplo interessante disso", analisa o professor sobre a série imortalizada pelo ator Adam West no papel principal.

"Reproduzia no seriado mais ou menos como as histórias o Batman eram até então: mais voltadas para um leitor infantil ou infantojuvenil. As onomatopeias na tela, em que o soco equivale ao 'pow', que para quem gosta de quadrinhos conseguia identificar. Por isso é uma produção tão emblemática", completa.

Transmídia em grandes produções

O conceito de transmídia é discutido pelo jornalista Paulo Ramos. "Transmídia é usado para você trabalhar um produto que é pensado não só para aquela mídia, mas que deve transitar paralelamente em outras", define.

Paulo aborda os exemplos de "Matrix" e "Pantera Negra" na sua reflexão. "O filme 'Matrix' foi pensado para o cinema, mas também uma parte dessa narrativa era construida em game e outra em história em quadrinho. Você tinha uma pluralidade narrativa, mas todas se somavam e constituíam uma narrativa maior. Isso é como entendo a transmídia".

Já o filme que recentemente bateu recordes de bilheteria no mundo não se encaixa nesse perfil segundo o convidado. "A relação dos quadrinhos com o cinema na adaptação do 'Pantera Negra' talvez não seja transmídia. Talvez seja intermidialidade. Ou talvez seja simplesmente adaptação. Vai depender de como se trabalha o conceito", finaliza.

Movimento, mídia impressa, criatividade e interação

De acordo com o editor Sidney Gusman, o movimento é um dos segredos que causa o encantamento das HQs. "A mágica dos quadrinhos é o movimento entre os quadros. Resta ao leitor, na linguagem dos quadrinhos, ententer que entre um quadro e outro, naquele espaço em branco chamado de calha, existe uma mudança, um movimento", reflete.

Para Marcelo D'Salete, a mídia impressa não vai acabar. "A mídia impressa vai continuar, mas é provável que, talvez, daqui a algumas décadas, a gente tenha edições impressas de livros talvez menores do que agora porque o consumo pode ser que ele aumente dentro dessas mídias digitais", avalia.

Segundo o ilustrador, a criatividade não tem limites. "Hoje a gente tem até alguns artistas que conseguem trazer histórias não apenas tão narrativas, mas verdadeiras experiências visuais com essas possibilidades dos quadrinhos", indica Marcelo D'Salete.

O Mídia em Foco destaca o exemplo de "Protanopia", quadrinho digital sobre a Segunda Guerra Mundial criado por André Bergs. Ele une técnicas tradicionais das HQs com elementos de animação e interatividade sem usar som.

Sobre o uso das novas tecnologias, Sidney Gusman é categórico. "Acho sensacional que nós tenhamos aplicativos para leitura de quadrinhos. Por mais que o leitor seja aficcionado por ter o material físico nas mãos, existe um fator que tem que ser levado em conta: o espaço físico".

O editor aponta outra vantagem para o uso de celulares e tablets. "É incrível que você tenha o quadrinho na palma da mão. Isso porque o usuário pode não ser o leitor 'harcore' que é o colecionador. Você está amplicando seu público", defende.

Paulo Ramos concorda e amplia essa conexão. "A internet aproximou o seu leitor. Antes você tinha um contato intermediado pelo papel ou raras vezes em encontros presenciais. Essa aproximação entre autor e leitor permitiu que o autor consiga produzir determinada obra sem intermediação de uma editora, somente com contato direto com o leitor por meio de arrecadação coletiva".

Histórico dos quadrinhos

Desenhos primitivos nas paredes de cavernas, retratos de uma luta corporal no Egito antigo, uma guerra esculpida em um monumento, a Paixão de Cristo. Há milhares de anos o homem usa representações em sequência para contar uma história. E quando o texto escrito passou a acompanhar as imagens surgiu uma nova forma de arte: as histórias em quadrinhos.

As primeiras histórias em quadrinhos modernas surgem na segunda metade do século XIX. "As Aventuras de Nhô Quim", do ítalo brasileiro Ângelo Agostini, estreou no jornal Vida Fluminense em 1869. Já "Yellow Kid", de Richard Outcault, é um marco das HQs. Publicada pela primeira vez em 1895, a obra introduziu novos elementos que marcaram a linguagem dos quadrinhos como o diálogo escrito em balões.

Sobre o Mídia em Foco

O Mídia em Foco oferece uma janela na televisão aberta para se pensar os rumos da comunicação. No ar em uma emissora pública, a TV Brasil, o programa apresentado pela jornalista Paula Abritta trabalha com uma linguagem documental para abordar temas diversos.

Estão no escopo da atração as novas tendências de mercado, produção do conteúdo, evolução das tecnologias, convergência das mídias, regulação e consumo nos dias de hoje e as expectativas para o futuro.

A história dos meios de comunicação e a sua influência na sociedade contemporânea são algumas das perspectivas que o Mídia em Foco busca contemplar.

A proposta do programa jornalístico é estimular que o telespectador desenvolva uma visão crítica e possa refletir sobre o que observa na mídia. Acadêmicos, profissionais e especialistas na área discutem o passado, presente e futuro da imprensa, cinema, televisão, rádio e internet.

Serviço:
Mídia em Foco – segunda-feira (30), às 22h45, na TV Brasil.
Mídia em Foco – domingo (6) para segunda-feira (7), à 0h30, na TV Brasil

Da Gerência de Comunicação Institucional
Empresa Brasil de Comunicação - EBC
Contato: (21) 2117-6818

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Criado em 27/04/2018 - 16:15 e atualizado em 27/04/2018 - 16:15

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