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A falta que você faz

Cerca de 80 mil brasileiros desaparecem todos os anos

Caminhos da Reportagem

No AR em 16/05/2021 - 20:00

O último abraço, o último sorriso, a última declaração de amor. As demonstrações de afeto se congelam no tempo e na memória de quem busca o filho desaparecido. “Eu estava indo embora, ele saiu do carro e falou ‘pai, volta aqui, me dá um abraço’”, diz Érico Carvalhar Vieira sobre o filho que desapareceu há oito anos na zona rural de Vera Cruz (SP). 

Ivanise Esperidião, mãe de Fabiana, desaparecida há 25 anos:  "eu só acredito num cadastro nacional que concentre todas as informações dos desaparecidos no país quando estiver funcionando"
Ivanise Esperidião, mãe de Fabiana, desaparecida há 25 anos: "eu só acredito num cadastro nacional que concentre todas as informações dos desaparecidos no país quando estiver funcionando" - Divulgação/TV Brasil


De acordo com pais e mães ouvidos pelo Caminhos da Reportagem, o drama de quem tem um parente desaparecido começa no balcão da delegacia. Eles são orientados a voltar para casa e esperar de 24 a 48 horas, vai depender do policial de plantão. “Não temos conhecimento de nenhuma regra que tenha estabelecido prazo de espera para iniciar a busca de uma pessoa desaparecida. Ao contrário, a lei de 2009 estabelece que a busca é prioridade em caráter de urgência”, informa Larrisa Leite, coordenadora-adjunta de pessoas desaparecidas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Para as autoridades que trabalham com pessoas desaparecidas, o tempo é fundamental para seguir os rastros e pistas no desaparecimento de uma pessoa. Ainda assim, a presidente da ONG Mães da Sé Ivanise Esperidião, há 25 anos ouve queixas das mães em relação ao tratamento da polícia. “Quando minha filha, Fabiana, desapareceu há 25 anos, o delegado disse ‘mãe, volta pra casa e espera lá, sua filha deve estar com um namoradinho’. E é assim até hoje, se era menino, era traficante, se menina, fugiu com o namorado”, ela diz com um misto de raiva e dor.

Maria Aparecida Corraini, reencontrou o filho que estava desaparecido há 4 anos. Três anos depois, Silvio morreu de pneumonia: "o luto do desaparecimento é pior do que o luto de falecimento."
Caminhos da Reportagem - A falta que você faz - Maria Aparecida Corraini, por Divulgação/TV Brasil

Para Ivanise, qualquer forma de divulgação da pessoa desaparecida, seja nas contas de empresas de energia elétrica, gás, latas de óleo, é válida. Quando a Mães da Sé fez parceria com a empresa de transportes Braspress, o rosto de Silvio Corraini estampado num caminhão foi reconhecido no Espírito Santo. “Ali terminou um luto” diz Maria Aparecida Corraine, mãe de Silvio que cedeu as imagens do reencontro com o filho para o Caminhos da Reportagem.

Terezinha Pinheiro Cotrim, mãe de Pedro Luiz: "ele mandou mensagens para o celular da namorada mas o delegado não acreditou".
Terezinha Pinheiro Cotrim, mãe de Pedro Luiz: "ele mandou mensagens para o celular da namorada mas o delegado não acreditou". - Divulgação/TV Brasil

Outra ajuda será o Cadastro Nacional, quando estiver ativo e concentrar todos os nomes dos desaparecidos do país. O cadastro foi criado em 2010 mas não funcionou. Resta esperar que a lei que institui a política nacional de buscas de pessoas desaparecidas, sancionada em março de 2019 com a criação de um cadastro nacional, desta vez, saia do papel.
 

Ficha técnica
Reportagem: Bianca Vasconcellos
Produção: Bianca Vasconcellos, Deise Machado, Pollyane Marques, Leo Catto, Luise Espinosa
Imagens: Bianca Vasconcellos 
Videografismo: Lucas de Souza Pinto, Pamela Lopes
Trilha sonora original: Flávia Tyguel
Produção musical: Tereza Cristina Eustáquio 
Banco de trilhas: Music Branding Brasil
Edição de imagens e finalização: Maikon Matuyama
Roteiro e direção: Bianca Vasconcellos
 

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Criado em 13/05/2021 - 09:10

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