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Geração Alpha: crianças além da tecnologia

Caminhos da Reportagem

No AR em 13/02/2022 - 20:00

Em um mundo que se fala cada vez mais de metaverso, nanorobôs e inteligência artificial, surge uma nova geração que terá um contato mais natural com esse tipo de tecnologia: a geração Alpha. Crianças nascidas entre 2010 e 2025 provavelmente terão um raciocínio mais voltado para a lógica digital, mas perdem o que a era analógica oferecia. Mas será que apenas a tecnologia vai importar daqui para frente para classificar uma geração?

A estudiosa de gerações, Wivian Weller, doutora em sociologia e professora da faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), acredita que não. Para ela, há um empobrecimento da ideia de só ver as novas gerações através da ótica tecnológica, apesar dela fazer parte do mundo dessas crianças. "Uma geração não se constitui apenas pelo uso de tecnologias, mas a gente precisa perguntar também que tipo de uso essa geração faz com elas", avalia.

CAMINHOS DA REPORTAGEM_GERAÇÃO ALPHA_THEO CORREIA
Theo Correia criou um game de preservação ambiental - Divulgação/TV Brasil

Esse uso da tecnologia para um problema da realidade não-virtual foi o que Theo Correia, de 10 anos, morador de Niterói, no Rio de Janeiro, colocou em prática. Ele virou um defensor da natureza, depois de, aos 4 anos de idade, ver no Projeto Tamar a reabilitação de uma tartaruga marinha que havia engolido plástico no oceano. No que pode, tenta agir e chamar a atenção para a destruição ambiental. Já recolheu lixo em praias e também organizou, junto com a mãe, piqueniques com mais de 100 crianças para plantar árvores.

E ele não parou por aí. Durante a pandemia, começou a estudar programação na escola CodeBuddy e criou o jogo Ciclovias Verdes, em que um ciclista pega lixo e poluição em troca de pontos. A ideia agora é ter um patrocínio para que as pontuações no mundo virtual sejam revertidas em atitudes no mundo real de reflorestamento ou de despoluição.

Quem são os Alpha

Atualizações cada vez mais rápidas e novidades a todo momento. As crianças de até 12 anos, que fazem parte dos Alpha, já nascem encarando com naturalidade essa rapidez. E se o mundo virtual é envolvente para os adultos, para as crianças vai além da diversão: hoje também é jeito de encontrar e interagir com os amigos.

Os jogos foram um ponto de conflito entre a médica Cristiane Guimarães e o filho, Bernardo, de 11 anos, em Brasília. Durante a pandemia, sem poder encontrar os amigos, o videogame foi um dos passatempos que ele tinha. Mas virou motivo de preocupação dos pais. Um dia, numa atitude extrema, Cristiane desconectou todo o equipamento e o trancou em um armário, além de confiscar o celular do filho. Só depois, ao ver a tristeza de Bernardo por não poder encontrar os amigos virtualmente, que os dois chegaram a um acordo: o limite de 2 horas por dia para jogar.

CAMINHOS DA REPORTAGEM_GERAÇÃO ALPHA_ CRINÇA DE ATÉ DOIS ANOS
Crianças até dois anos não devem ter contato com telas, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria -  por Divulgação/TV Brasil

A atitude de Cristiane está de acordo com a cartilha da Sociedade Brasileira de Pediatria, lançada em 2020. O manual recomenda evitar o uso de telas por crianças abaixo dos 2 anos. E entre 2 e 18 anos, os pais precisam limitar o tempo de uso de telas e jogos de videogame. Isso para evitar que os exageros ocorram, já que existem doenças relacionadas a esse tipo de vício: a dependência digital foi, em 2019, incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID)  pela a Organização Mundial de Saúde.

Exclusão digital

Entretanto, num país onde 19% da população ainda não tem acesso à internet, torna-se difícil colocar todas as crianças de uma geração em alguns estereótipos. Sem políticas públicas de acesso à tecnologia, a exclusão pode ser ainda maior. A falta de acesso a equipamentos e internet faz com que os excluídos dessa geração também não tenham as mesmas oportunidades que outros para alcançar um mercado de trabalho que já se projeta em cima do mundo virtual.

CAMINHOS DA REPORTAGEM_GERAÇÃO ALPHA_CRIANÇAS RIBEIRINHAS
Crianças ribeirinhas da Amazônia sem muito acesso às tecnologias digitais - Divulgação/TV Brasil

Na escola pública Comunidade de Aprendizagem do Paranoá, CAP, em Brasília, grande parte das crianças não têm acesso integral às tecnologias. Para amenizar esse distanciamento da realidade digital, a escola conseguiu arrecadar 16 tablets durante a pandemia. “Precisamos muito que isso chegue o quanto antes e que isso potencialize o processo de comunicação social e de relação com o mundo e construção de conhecimento para todas as crianças, de todas as camadas”, avalia o professor Matheus Fernandes de Oliveira.

CAMINHOS DA REPORTAGEM_GERAÇÃO ALPHA_PEDIATRA E FILHOS
O pediatra Roberto Franklin brinca com os filhos para evitar exposição às telas - Divulgação/TV Brasil

Mas a escola, por adotar um modelo que rompe com o padrão de educação tradicional, oferece aos alunos o desenvolvimento de outros tipos de habilidades, também essenciais para a independência e convívio social das crianças. A diretora da escola, Renata Resende, lembra que o modelo usado na educação tradicional remete ao século XIX. “Há uma necessidade de readaptação do formato da escola a esses novos tempos, que é algo não apenas da geração Alpha, mas que a gente já sente há muito tempo”, avalia.

Para José Moran, especialista em educação e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), é essencial que se reveja esse modelo educacional. E é possível ter uma realidade híbrida, com jogos manuais e jogos digitais, por exemplo, o que for conveniente a cada momento. “O digital envolvido e um pouco de afeto é um caminho indispensável para essa geração”, afirma.

Ficha técnica

reportagem: Flavia Peixoto
produção: Ana Passos, Carina Dourado, Carol Gonçalves, Cintia Vargas, Flávia Peixoto
apoio produção: Ana Graziela Aguiar
imagens: André Rodrigo Pacheco, Cláudio Tavares, Denis Vianna, Gilson Machado, Robson Moura, Rogerio Verçosa, Sigmar Gonçalves
auxílio técnico: Dailton Matos, Eduardo de Sá, João Carlos, Marcelo Vasconcellos, Raimundo Nunes
apoio imagens: Osvaldo Alves e Rafael Calado, Alexandre Martiniano e Alexandre Souza
edição de texto: Carina Dourado
edição de imagens e finalização: André Eustáquio, Jerson Portela, Rivaldo Martins
arte:Eudes Lins

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Criado em 11/02/2022 - 09:20

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