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Canto lírico, uma história também brasileira

Caminhos da Reportagem

No AR em 24/04/2022 - 22:00

Ao declamar poemas ao som do instrumento da lira, os poetas gregos inauguraram a tradição do canto lírico, importada da Europa e hoje presente em todo o mundo. O Caminhos da Reportagem desta semana mostra os desafios da profissão no Brasil, uma escolha que envolve muito estudo, prática, dedicação e luta para se destacar nesta arte.

A cantora lírica Chiara Santoro na peça Iolanta - a princesa de vidro
A cantora lírica Chiara Santoro na peça Iolanta - a princesa de vidro - Divulgação

A cantora lírica Chiara Santoro, formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e com especialização no Conservatório Santa Cecília de Roma, atua como atriz e cantora em diferentes gêneros do canto lírico, como óperas, operetas e concertos de câmara. “Eu gosto de contar histórias cantando”, resume. A quantidade reduzida de obras por temporada no Brasil acaba também exigindo dos artistas maior versatilidade. “É uma realidade aqui do canto lírico no Brasil ter que se dividir em muitas tarefas. A gente vai equilibrando, tipo malabarista”, brinca. 

O cantor lirico Homero Velho, no Theatro Municipal de São Paulo onde estrela Navalha na carne
O cantor lirico Homero Velho, no Theatro Municipal de São Paulo onde estrela Navalha na carne - Divulgação

Em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo com a ópera “Navalha na na carne”, baseada na peça de Plínio Marcos, o cantor lírico e professor da Escola de Música da UFRJ Homero Velho defende que, mesmo nos períodos em que está fora dos palcos, o cantor precisa estar sempre pronto, com a voz “funcional”: “É o único instrumento que realmente é o nosso corpo, é muito difícil de a gente sentir o que está acontecendo lá dentro. Por isso, a prática diária é tão importante, ensina de maneira empírica como utilizar sua voz”.

Diante das dificuldades da carreira, muitos artistas ainda procuram no exterior oportunidades de trabalho e formação. A jovem cantora lírica Manuela Korossy é hoje aluna da Juilliard School, nos Estados Unidos, uma das mais renomadas escolas de performance do mundo. “A coisa mais difícil de todo o processo de admissão, quando se tem segurança no seu preparo técnico, é vencer o estresse”, desabafa.

A cantora lírica Priscila Olegario hoje vive em Bruxelas e se apresenta nos palcos europeus
A cantora lírica Priscila Olegario hoje vive em Bruxelas e se apresenta nos palcos europeus - Divulgação

De Bruxelas, a cantora lírica Priscila Olegário, que estudou na França, na Itália e na Bélgica e já se apresentou em diferentes países da Europa interpretando protagonistas de óperas renomadas, como “Carmen” e “Aida”, conta que, ainda assim, encontra barreiras: “Só o meu corpo e a minha face cantando lírico já são uma transgressão”, argumenta. “Ainda hoje há países que fazem blackface. Isso para mim, é inaceitável”, diz Priscila, referindo-se à prática de caracterizar personagens brancos como se fossem negros, o que reforça esterótipos racistas.

Miqueias William ressalta a emoção, o privilégio e a responsabilidade de cantar o palco do Teatro Amazonas
Miqueias William ressalta a emoção, o privilégio e a responsabilidade de cantar o palco do Teatro Amazonas - Divulgação

No Amazonas, o cantor lírico Miqueias William perseguiu o sonho de subir ao palco e soltar a voz inspirado nos três tenores - Luciano Pavarotti, Plácido Domingos e José Carreras -, que, na década de 1990, fizeram sucesso mundialmente. Miqueias tornou-se um dos idealizadores do Encontro de Tenores, que acontece há dez anos no Teatro Amazonas, em Manaus. Ainda hoje, ele diz que se emociona ao entrar no teatro: “É uma responsabilidade muito grande e é um privilégio”, descreve. “Eu vim de um bairro humilde, meu avô era pescador, minha mãe uma professora. A gente não era de família rica, que se interessou por ópera e foi para Europa. Nada, foi tudo aqui mesmo”.

No Rio, o Colégio Pedro II tem a disciplina de música nos bancos escolares desde sua fundação, em 1837. “A música tem um lugar. O lugar dela é na escola, é junto com os alunos”, acredita a professora de educação musical Cristina Cardoso da Fonseca. 

Ficha técnica: 

Reportagem: Thiago Pimenta
Edição de texto: Luciana Góes e Renata Cabral
Produção-executiva: Elisabete Pinto 
Imagens: Eusébio Gomes, Gilson Machado e Ronaldo Parra
Operador de Áudio: Cláudio Tavares
Auxiliar técnico: Adaroan Barros e Yuri Freire 
Apoio DF: Claiton Miranda, Tiago Bittencourt, André Rodrigo Pacheco, Manoel Lenaldo, Alexandre Souza e Thyago Pignata
Apoio SP: Carolina Pavanelli, Raul Pero e Vladimir Roger
Equipe TV Encontro das Águas: Elis Marinheiro, Said Hossary, Gato Junior e Leonardo Costa

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Criado em 21/04/2022 - 17:05

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