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Os venezuelanos no Brasil

Caminhos da Reportagem

No AR em 01/05/2022 - 22:00

A vendedora venezuelana Yurisbel Lopes chegou com 2 filhos ao Brasil pela fronteira em Roraima. Em 3 malas, trouxe o que restou da vida. “Nessa estão as minhas roupas, nesta, a das crianças, na outra, os sapatos”, mostra. Após uma viagem de 12 horas de ônibus, deixou para trás o país natal para reencontrar o marido, que está há 6 meses em Santa Catarina.

Naiber Jesus tem na moto o sustento da família
Naiber Jesus tem na moto o sustento da família - TV Brasil

O mototaxista Naiber Jesús chegou à fronteira há 5 meses. Cruzou a Venezuela em uma moto com a esposa e três filhos - um deles, recém-nascido, que só foi registrado no Brasil. Abandonou a vida de agricultor e hoje vive de levar e buscar pessoas que atravessam a divisa dos dois países em busca de uma vida melhor. “Eu queria que meus filhos fossem alguém na vida, por isso me disseram para vir pra cá”, conta.

As duas histórias se misturam com as de 717.947 venezuelanos que entraram no Brasil de janeiro de 2017 a março de 2022. As sanções internacionais impostas à Venezuela naquela época agravaram a crise que o país vizinho já vivia, que resultou, até agora, na migração de mais de 6 milhões de venezuelanos. 

Interiorização

Crianças venezuelanas em abrigo de Roraima
Crianças venezuelanas em abrigo de Roraima - TV Brasil

Quase metade (47%) desses imigrantes decidiram viver no Brasil, segundo dados até março de 2022 da plataforma R4V, que reúne informações do sistema das Nações Unidas e do governo brasileiro.

O país teve que pensar uma estratégia para abrigar essas pessoas. Criada em 2018, a Operação Acolhida desenvolveu um sistema para receber, orientar, acolher e interiorizar esses venezuelanos. O governo brasileiro flexibilizou regras para autorizar rapidamente os pedidos de residência e refúgio. E um plano para interiorizar essas pessoas foi criado para aliviar as cidades que são a primeira parada desses imigrantes. Muitos aguardam a oportunidade de reencontrar a família ou amigos que vieram antes.

CPF e cartão do SUS são alguns dos documentos que os venezuelanos conseguem assim que chegam ao Brasil. Também são cadastrados em um sistema para conseguir emprego. O oficial de campo da ACNUR Arturo de Nieves afirma que a grande diferença da operação montada no Brasil para imigrantes em relação ao restante do mundo são essas ações. "Procuramos facilitar a integração para que as pessoas refaçam sua vida e tenham independência”.

Mais de 800 municípios já receberam venezuelanos desde 2018. Paraná (12.678), Santa Catarina (12.195) e Rio Grande do Sul (10.593) foram os principais destinos, segundo a Operação Acolhida. “Nós procuramos conciliar as oportunidades de oferta de emprego do mercado brasileiro à capacitação do venezuelano”, afirma o tenente-coronel Magno Lopes, chefe do Centro de Coordenação para Interiorização. 

Emprego e nova vida

O agricultor Juan Diaz conseguiu emprego após cinco meses de espera
O agricultor Juan Diaz conseguiu emprego após cinco meses de espera - TV Brasil

O agricultor Juan Diaz esperou por 5 meses o surgimento de uma oportunidade de trabalho. Após um processo de seleção, ele e a esposa foram contratados para administrar uma fazenda em Planaltina, interior de Goiás. “Tem que ter fé e esperança. Agora, vou poder ajudar minha família, com um bom salário, com estabilidade de emprego”, planeja Juan. No fim de março, ele chegou ao novo lar, onde pretende ficar até se estabelecer no Brasil. 

Hoje, o país tem 184.594 venezuelanos com autorização de residência e 49.045 refugiados, segundo a plataforma R4V. “A migração traz também para nós uma riqueza de cultura, de costumes e os migrantes, podem contribuir muito com o país, porque eles são qualificados”, afirma Niusarete Margarida de Lima, assessora especial para assuntos de migrações na Secretaria Nacional de Assistência Social 

Há 1 ano, Deixy Aguillera chegou ao Brasil com o marido e o filho, depois de caminhar por dias, cruzando a Venezuela, até chegar à fronteira. Depois de ficarem abrigados, Deixy e o marido conseguiram a autorização de residência e uma vaga de emprego em Campinas, São Paulo. Os dois trabalham em um shopping, como auxiliar de limpeza. “Eu agora estou em uma casa, onde posso pagar o aluguel, eu posso comprar minhas coisas, para meu filho”, comemora. 

Deise Aguillera conseguiu trabalho com a ajuda da ONG Emponderando Refugiadas
Deixy Aguillera conseguiu trabalho com a ajuda da ONG Emponderando Refugiadas - TV Brasil

Foi por meio do projeto Empoderando Refugiadas, da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), da Rede Brasil do Pacto Global e da ONU Mulheres, que Deixy foi escolhida. Outras 12 migrantes também trabalham no mesmo local. “Elas vêm com uma vontade de trabalhar incrível, com muitas histórias bonitas de perseverança, de luta, de vontade de fazer a diferença”, avalia Paulo Filho, gerente do shopping. Da parte de Deixy, fica a sensação de que valeu a pena o esforço para uma vida melhor: “Só a agradecer pela forma como nos tratam”.

O episódio do próximo domingo (1) do Caminhos da Reportagem mostra estas e outras histórias sobre as dificuldades dos imigrantes e o que tem sido feito para facilitar a integração deles no Brasil. É neste domingo, às 22h, na TV Brasil.

Ficha Técnica

Reportagem: Gracielly Bittencourt 

Produção: Ana Graziela Aguiar, Carol Oliveira, Gracielly Bittencourt, Tiago Bittencourt

Imagens: Alexandre Silva, Danilo Ferreira

Apoio Imagens: Sigmar Alves, André Pacheco, Rogério Verçoza

Auxílio: Alexandre Souza, Aldo Pinto

Apoio Auxílio: Daílton Matos, Rafael Calado, Marcelo Vasconcelos

Edição de texto: Carina Dourado

Edição de imagens e finalização: André Eustáquio

Arte: André Eustáquio e Lucas de Souza Pinto

Tradução: Lucas Magdiel  e Leonardo Vieira

Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil.

Criado em 27/04/2022 - 15:25

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