A hanseníase é uma doença crônica e infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium Leprae, também conhecida como bacilo de Hansen. Uma das vinte doenças tropicais negligenciadas, segundo classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), a hanseníase é tema do Caminhos da Reportagem.
O médico infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda explica que as doenças negligenciadas acometem uma parcela mais pobre da população e geralmente se encontra no hemisfério Sul do planeta, onde a pobreza é um determinante importante para essas doenças. São doenças para as quais há pouco tratamento disponível e pouco interesse da indústria farmacêutica.
Segundo a médica infectologista Giovana Volpato Pazin Feuser, as principais características da hanseníase são surgimento de lesões na pele, geralmente lesões avermelhadas, e alteração de sensibilidade. A primeira sensibilidade que as pessoas costumam perder é a térmica, ou seja, deixam de sentir calor e frio no local, e por último a sensibilidade tátil. Assim, a doença afeta a pele e os nervos periféricos, o que pode causar incapacidades e deformidades físicas. Por isso, uma das dificuldades enfrentadas pelas pessoas que vivem com hanseníase é justamente o preconceito e o estigma. A transmissão se dá apenas de uma pessoa doente sem tratamento para outra, após um contato próximo e prolongado. A doença tem cura, e o tratamento é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Durante muitos anos, as pessoas com hanseníase foram isoladas do convívio com a sociedade e levadas para viver em colônias. Criada na década de 1940, a colônia Antônio Aleixo recebia pacientes de várias partes do estado do Amazonas. O local chegou a abrigar duas mil pessoas com hanseníase. Com o passar do tempo, a colônia foi se transformando em bairro, onde os familiares dos pacientes também passaram a viver. A aposentada Teresinha Maia da Silva chegou na colônia ainda na adolescência. Já são cinquenta anos vivendo no local. Ela chegou a buscar a família, mas não encontrou apoio. Pelo contrário, conta que foi recebida com preconceito. “Procurei minha família, mas não me dei bem por causa da do preconceito. O meu próprio irmão, eu me sentei no banco, aí ele me deixou sentar, nós conversamos, quando terminou ele jogou álcool e ainda limpou o banco. Era um preconceito horrível”, lembra.
Em alguns tipos de hanseníase, não há o aparecimento de manchas pelo corpo. A doença pode atacar diretamente os nervos. Como aconteceu com o militar reformado Fábio Correia, que começou a apresentar os primeiros sintomas há cinco anos. Ele estava perdendo a força nas pernas e sentia muita dor. Recebeu o diagnóstico correto em Cuiabá e faz acompanhamento no Hospital Universitário Júlio Müller, centro de referência do SUS ligado à Universidade Federal do Mato Grosso. A família é a sua maior fonte de força no tratamento e para lidar com o preconceito. “A medicação mais importante que tem no tratamento é a família. E tem cura. Eu estou vencendo, todos também vão vencer tendo esse acompanhamento que eu estou tendo”, disse Fábio.
O Caminhos da Reportagem esteve no Mato Grosso e no Amazonas e vai contar histórias que quem vive com a doença e enfrenta preconceitos. Vai falar também dos desafios para o melhor cuidado dessas pessoas e os novos testes complementares para o diagnóstico da hanseníase que estão sendo fornecidos pelo Ministério da Saúde.
Ficha técnica
Reportagem: Ana Graziela Aguiar
Produção: Ana Graziela Aguiar, Flavia Peixoto, Tiago Bittencourt
Apoio à produção: Aline Beckstein
Imagens: Alexandre Silva, Sigmar Gonçalves
Apoio às imagens: Marcelo Padovan, Ronaldo Parra
Auxílio técnico: Alexandre Sousa
Apoio técnico: Yuri Freire
Edição de texto: Flávia Lima
Edição de imagens e finalização: Jerson Portela e Rivaldo Martins
Artes: Eudes Lins
Agradecimentos: Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi)
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