Foi-se o tempo em que História era assunto chato e acadêmico. Há dois anos surgia um novo programa na TV Brasil que ajudaria a colocar o tema em voga e mudar essa realidade. Comandado pelos jornalistas Ancelmo Gois e Vera Barroso, o De Lá pra Cá comemora no dia 23 de junho seu segundo aniversário com 88 episódios e mais de 600 entrevistados. Nomes importantes como Fernanda Montenegro, Caetano Veloso, Walter Salles, Gilberto Gil, Oscar Niemeyer, Marieta Severo, entre outros, deram seus depoimentos sobre personagens importantes da história brasileira, muitos deles desconhecidos pelo grande público.
A ideia do projeto nasceu da vontade do apresentador Ancelmo Gois de criar um programa de história e contar a trajetória de personalidades como Carmem Miranda, Dom Helder Câmara, Adoniran Barbosa, usando como pretexto alguma efeméride. No entanto, ele explica que os temas escolhidos contemplam também assuntos inusitados: "Quando se faz o programa do centenário de Noel você quase não surpreende o público porque ele é muito conhecido. Mas quando a gente faz um tema como os 200 anos de pão francês no Brasil, isso surpreende".
Algumas mudanças de vinhentas e duração foram feitas nesses dois anos. Isso, contudo, sem alterar o essencial do programa. "A fórmula foi modificada mas a forma continua a mesma: contar história de maneira compreensível mas com autoridade", diz a diretora Carolina Sá. Uma característica fundamental que permanece é a ausência de narração. Os convidados e os apresentadores determinam o rumo do conteúdo junto com uma pesquisa minuciosa, fatores que mantêm a credibilidade da atração.
Apesar de toda essa pesquisa, algumas descobertas acontecem durante o desenrolar da produção de alguns temas. Um exemplo disso aconteceu durante o programa sobre o cientista Josué de Castro, quando a equipe descobriu que o Mangue Beat, movimento musical que surgiu na década de 90 em Recife, era inspirado no autor de "Geografia da Fome". Situações emocionantes e cômicas também fazem parte história do De Lá Pra Cá. Na mesma edição sobre o pernambucano Josué de Castro, a apresentadora Vera Barroso lembra de uma entrevista com os pais do Chico Science: " Ela começou a contar a morte do Chico e de repente comecei a chorar. Quando eu olhei para a equipe, eles estavam aos prantos e a entrevista não pôde ir ao ar", conta.
A jornalista ainda comenta uma gravação em Angico, Sergipe, para o programa sobre Lampião: "O Ancelmo tinha que voltar para o Rio de Janeiro e a viagem demorou mais do que o previsto. E ele, que nunca tinha andado no mato, de repente se embrenhou apressado pela mata até chegar à margem do Rio São Francisco onde ficou esperando a barca para resgatá-lo".
A repercussão de todo esse trabalho é sentida nas ruas durantes as gravações. "Fizemos uma gravação na Cidade de Deus em que um senhor veio falar com a gente e criticar o programa", ressalta Vera Barroso. Professores e demais profissionais de educação também reconhecem a importância desse espaço na TV aberta: "A área acadêmica nos respeita porque levamos conteúdo sem ser chatos e sem ser fúteis. Acho que contamos coisas interessantes de maneira leve", resume Ancelmo Gois.
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