A pandemia da Covid-19 se arrasta a quase sete meses e neste período deixou poucas certezas. De Washington, na sede da Organização Panamericana da Saúde (Opas), o vice-diretor da organização, Jarbas Barbosa, afirmou que, dos casos sintomáticos, 80% não precisam de hospitalização e 20% vão precisar de hospitalização, sendo 5% casos que exigem cuidados intensivos.
“O problema que isso são proporções. Então, se a gente tem 100 casos de covid, 5% são cinco. Mas, se a gente tem 100 mil, 5% são 5 mil”, alertou.
Na conversa exclusiva com a jornalista Katiuscia Neri ao programa Impressões, Barbosa cita países que viram seus sistemas de saúde colapsarem por desprezarem a doença. Exemplos que ficaram na memória da população mundial são o da Itália, de Nova Iorque, Equador e Brasil.
“Não precisamos mais confirmar essa realidade que pode causar mortes aos milhares”, destacou.
Atualmente, 80% dos casos da doença estão concentrados em dez países e o epicentro do coronavírus, que foi identificado na Ásia, ainda no final de 2019, agora está localizado nos Estados Unidos e Brasil. Ambos com uma população considerável e com proporções territoriais grandes o suficiente para manifestarem situações e realidades das mais diversas.
“Na América Latina – pela grande proporção que nós temos ainda de economia informal, de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza --, medidas de distanciamento social têm mais dificuldades de serem mantidas no médio e longo prazo. É muito importante fazer uma avaliação muito cuidadosa da realidade que se encontra cada cidade, para que se apliquem as medidas mais efetivas no sentido de controlar a transmissão e fazer diminuir a curva de casos”, recomendou.
Barbosa ainda acrescenta que qualquer processo de reabertura de atividades sociais e econômicas só ocorra depois de um controle efetivo da transmissão de casos, da garantia de testagem suficiente e do respeito a orientações como uso de máscara e distanciamento físico mínimo.
Quanto às medidas brasileiras, o vice-diretor da Opas elogia a postura brasileira. “O Brasil vem tomando várias medidas para aumentar o acesso aos testes. Nós [Opas] temos um fundo estratégico que é um mecanismo de compras regionais. O Brasil solicitou 10 milhões de testes PCR. Nós compramos para o Ministério da Saúde”, contou durante o programa.
Para ele, quando um país limita os testes aos casos graves, de pacientes hospitalizados, perde a capacidade de saber exatamente o que está acontecendo. “Todo país tem que ter uma quantidade de testes suficientes para testar todos os casos suspeitos, mesmo os leves. Porque aí você pode colocar em isolamento e ir cortando o caminho da transmissão do vírus”, explicou.
Por ora, a Opas, assim como outros organismos vinculados à Organização das Nações Unidas (ONU), não faz recomendação do uso de qualquer medicamento por não haver científica da eficácia. Sem um medicamento comprovado oficialmente, fica a cargo dos médicos avaliarem cada caso. Barbosa alerta, apenas, que qualquer decisão seja exposta ao paciente e submetida à sua aprovação.
Na expectativa do avanço de vacinas, ele não exita: “Creio que é a grande aposta”. Atualmente, mais de 150 projetos de vacina para combater o coronavírus estão em desenvolvimento. Destas, mais de 20 se encontram na fase de testes em seres humanos, as mais adiantadas.
“Medicamentos, em geral, as pessoas começam a usar porque, em laboratório, eles demonstram alguma atividade contra vírus. Mas, a grande maioria das vezes, essa boa resposta do tubo de ensaio não se confirma na vida real. Isto ocorreu com o Ebola e [vírus] primos do coronavírus”, lembrou.
Barbosa acredita que a população mundial poderá contar com uma vacina definitiva nos primeiros meses de 2021. “Aí vem o desafio da produção. Foi criada uma plataforma global para que todos os países recebam doses para 20% de suas populações e o público inicial seriam os mais suscetíveis como idosos, os portadores de doenças graves e funcionários de saúde”, contou.
A plataforma garantirá, por exemplo, que as nações menos ricas fiquem sem doses pelo risco de países mais abastados comprarem toda a produção inicial.
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