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Depois da fronteira: a vida das crianças imigrantes

A realidade das crianças venezuelanas que chegam ao Brasil

Caminhos da Reportagem

No AR em 05/12/2019 - 21:00

O drama de pessoas que fogem da miséria e da fome e atravessam fronteiras está mais perto do que se imagina. Desde 2017, mais de 200 mil venezuelanos vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor. Entre os imigrantes, chegaram cerca de 10 mil crianças e adolescentes, segundo estimativas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A equipe do Caminhos da Reportagem esteve em Pacaraima e Boa Vista, em Roraima, para acompanhar a situação desses meninos e meninas ao chegar e se adaptar na vida no Brasil.

Crianças em abrigo oficial de imigrantes em Boa Vista - RR
Crianças em abrigo oficial de imigrantes em Boa Vista - RR - Divulgação/TV Brasil

Logo ao cruzar a fronteira, os venezuelanos são recebidos em abrigos provisórios, onde aguardam para seguir para Boa Vista ou outra cidade brasileira. A travessia e a vida nos abrigos têm um impacto forte nas crianças. Diego Hernandéz tem apenas 10 anos, mas já entende o porquê de ter deixado sua terra natal: “A Venezuela está pobre e muitos venezuelanos estão passando dificuldade, a metade do país já foi embora porque a coisa estava feia lá”.

Quem participa do acolhimento dessas crianças e adolescentes vive o cotidiano de ver como eles chegam. “O estado emocional, muitas vezes elas chegam sem entender o que está acontecendo e são crianças com poucas roupas e grande necessidade de coisas básicas, como roupas e fraldas”, explica o tenente-coronel Barcellos, coordenador da Operação Acolhida em Pacaraima. Para minimizar o impacto, o Unicef mantém 23 Espaços Amigos da Criança em Roraima, com atendimento pedagógico e atividades de recreação. A professora Sorimar Tremária, da ONG Visão Mundial, que atua nesses espaços, conta que as crianças se surpreendem com o pouco que têm para brincar. “Só um lápis de cor e um papel já fazem a diferença para elas, que dizem que na Venezuela não tinham isso, porque era muito caro”, relata.

Crianças venezuelanas na fronteira do Brasil com a Venezuela
Crianças venezuelanas na fronteira do Brasil com a Venezuela - Divulgação/TV Brasil

Há abrigos específicos para a população indígena, onde a saúde das crianças é prioridade no atendimento. Nossa equipe encontrou uma mãe com seu bebê que, ao chegar ao abrigo com um ano de idade, estava tão desnutrido que não andava, não levantava nem chorava. A equipe de nutricionistas deu atenção especial à criança, com alimentação reforçada, vitaminas e acompanhamento. “Hoje eu vejo o Nelwin com dois anos correndo pelo abrigo e é uma felicidade muito grande”, conta Cintia de Lima, uma das nutricionistas que acompanhou o bebê.

Gestantes

Muitas mulheres atravessam a fronteira grávidas para terem seus bebês no Brasil. Em Boa Vista, nossa equipe encontrou mães como Yarinat Rosa, com sua filha Gabriela Natália, que nasceu na cidade. Ela diz que o medo de não ter atendimento adequado e a falta de remédios na Venezuela a fez migrar ainda grávida, ao lado dos outros três filhos. “Quando eu vim para cá, no setor que eu morava morreram 18 parturientes entre 16 e 25 anos, e elas deixaram muitas crianças órfãs”, lamenta.

arinat Rosa veio ao Brasil ainda grávida, fugindo da alta mortalidade materna e neonatal na Venezuela
Yarinat Rosa veio ao Brasil ainda grávida, fugindo da alta mortalidade materna e neonatal na Venezuela - Divulgação/TV Brasil

Boa Vista, que tem 400 mil habitantes, é uma das cidades do país que mais tem sentido o choque da imigração. A prefeitura está atenta e tem agido para incluir as famílias nas políticas públicas do município. “Estudando outros países com suas histórias de migração, nós temos conhecimento que isso é para sempre”, avalia a prefeita Teresa Surita. Nas escolas municipais, 12% das matrículas já são de crianças venezuelanas.

Na Escola Municipal Waldinete de Carvalho Chaves, o projeto De Mãos Dadas, que visa integrar as crianças venezuelanas com as brasileiras, foi além da inclusão cultural. Os professores se empenharam na estimulação de Oseas, de 7 anos, que tem paralisia cerebral e que na Venezuela os pais foram avisados de que ele nunca iria andar. Hoje o garoto já anda e tem uma vida mais independente. “No nosso país não se observa nem se dá esse tipo de educação que tem aqui no Brasil”, compara Temistocle Gonzáles, pai de Oseas.

Oseas (de óculos), de 7 anos, tem paralisia cerebral e no Brasil conseguiu se desenvolver além da expectativa
Oseas (de óculos), de 7 anos, tem paralisia cerebral e no Brasil conseguiu se desenvolver além da expectativa - Divulgação/TV Brasil

Ficha Técnica

Reportagem: Amanda Cieglinski
Reportagem cinematográfico: João Marcos Barboza
Produção: Amanda Cieglinski e Naitê Almeida
Apoio técnico: Rogério Verçoza e Rafael Calado
Edição de texto: Carina Dourado
Edição e finalização de imagens: Carlos “Bazooka” Almeida
Arte: Eudes Lins

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Criado em 28/11/2019 - 15:55

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