Dois convidados da periferia paulistana, o rapper Dexter e o poeta e ativista cultural Hugo Paz, dão sua visão de vida e de arte no Provocações de hoje, sob o comando de Antônio Abujamra.
Em suas provocações, Dexter revela o que é ser negro no Brasil e como o rap revolucionou sua vida: “sou apenas mais um garoto negro da periferia, que nasceu lá e foi criado por uma mãe alagoana, sem pai. E que descobriu no rap ou na cultura hip hop a melhor maneira de viver, de ser um cara diferenciado”.
O rapper, que viu muitos amigos irem para o crime e poucos voltarem, analisa a periferia paulistana: “acredito que seja uma falta de atenção pra essas pessoas que se encontram lá. As escolas são precárias, a educação é quase nenhuma. E quando se tem é de uma forma arcaica. Eu costumo dizer que o hip hop tem que estar no currículo das escolas, de matérias escolares”.
Dexter analisa também o que é fazer parte desta periferia: “é ser trabalhador, honesto, é construir esse país e não ter nada em troca. É fazer parte de um povo que foi escravizado e que há quinhentos anos luta pela melhora. E infelizmente, não é reconhecido”.
A leitura é um hábito de Dexter: “aprendi a ter gosto pela leitura através do hip hop, por isso eu digo que o hip hop deveria ser uma matéria no currículo escolar, porque ele incentiva você a transformar a sua vida. É revolução mental”.
O ex-detento do Carandiru, que ficou detido por treze anos e há dois está em liberdade. “Eu apanhei uma arma e cometi um 157, um assalto à mão armada. Infelizmente não foi possível acordo e eu tive que cumprir uma pena”. Sobre sua passagem na prisão, Dexter conta seus frutos: “509-E nasceu no Carandiru, no ano de 1999. Eu fui um dos fundadores do grupo. Era o número da cela, do pavilhão sete. E nada mais original do que colocar 509-E. [...] O 509-E, naquela época, deixou de ser apenas uma cela onde as pessoas eram sufocadas, onde as suas ideias eram sufocadas e passou a ser uma espécie de biblioteca, um lugar pra se ouvir música, pra se conversar muito”.
O segundo convidado do Provocações, o poeta Hugo Paz diz que a arte deve ser levada para todos os espaços possíveis: “tem que aflorar todos os espaços. A arte hoje, vinda das periferias, tem a possibilidade de trazer novas tendências, novas escritas, então a poesia em si tá ocupando tudo o que antes não ocupava. Tanto que antigamente era difícil falar poesia nas periferias e hoje a gente vê falando em todos os lugares”. Ele ainda ressalta que, hoje em dia, pode-se dizer que outras pessoas da Academia estão começando a ler alguns poetas da periferia.
Hugo Paz é um dos criadores da Poesia é da Hora, que, segundo ele, conseguiu ocupar o espaço (na Barra Funda) fazendo poesia e música para moradores de rua. “A gente não teve apoio cultural de ninguém, do governo, das associações, somos nós mesmos, na raça. A gente foi ali tocando o projeto, apresentamos a proposta, e os coordenadores da ONG gostaram e a gente está até hoje ali. A intenção é que "Poesia é da Hora" cresça mesmo".
Sobre a Bienal do Livro, ele diz que o evento poderia abrir espaços para produção independente. “Se os autores independentes tivessem mais chances, seria um pouco mais gratificante pra gente".
Durante o programa, o apresentador Antônio Abujamra lê trechos da obra do poeta inglês Percy Shelley.
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