O jornalista Mauri König, da Gazeta do Povo, de Curitiba, está escondido com sua família desde segunda-feira, quando o jornal começou a receber ameaças por telefone de que sua casa seria metralhada. Ele deve deixar o estado em breve.
A causa da pressão é uma série de matérias publicadas pelo repórter sobre a Polícia Civil do estado, intitulada "Polícia Fora da Lei". O blog policial da Gazeta do Povo já recebera uma série de comentários anônimos, quando da publicação das reportagens, nos quais Mauri era considerado "inimigo número 1 da Polícia Civil".
O Ministério Público e a polícia do Paraná receberam na terça-feira, um "incentivo" para apressarem as investigações. A ABRAJI emitiu nota cobrando "apuração célere das ameaças contra Mauri König, que são ameaças também à liberdade de expressão e à democracia." Confira abaixo a nota completa.
Diretor da Abraji recebe ameaça de morte no Paraná
Mauri König, diretor da Abraji e repórter do jornal Gazeta do Povo, foi vítima de ameaças na última segunda-feira (17.12.2012). Diferentes pessoas telefonaram ao jornal, em Curitiba, e fizeram ameaças diretas e também alertas sobre ataques que estariam sendo planejados contra repórteres e diretores da empresa*. Mauri König foi citado nominalmente: sua casa seria metralhada.
Um jornalista da RPC TV, emissora do mesmo grupo da Gazeta, atendeu a um dos telefonemas. De acordo com ele, o interlocutor se identificou como policial e disse ter ouvido de colegas que cinco policiais civis e militares do Rio de Janeiro estavam em Curitiba para metralhar a casa de Mauri. O motivo seria uma investigação conduzida pelo repórter.
Em maio, ele coordenou uma série de reportagens publicada na Gazeta sob o título “Polícia Fora da Lei”. Os textos revelaram, por exemplo, que agentes usavam viaturas da corporação para compromissos pessoais – inclusive visita a casas de prostituição em horário de expediente.
À época, o blog policial da publicação recebeu comentários anônimos com ameaças aos jornalistas envolvidos na apuração. Mauri foi descrito como “inimigo número 1 da Polícia Civil”.
Nessa segunda-feira (17.12.2012) a Gazeta do Povo publicou novo texto sobre a corporação, desta vez dando conta de uma possível promoção de agentes que estariam sendo investigados pelo uso de viaturas para fins pessoais.
Mauri König e sua família deixaram a casa em que viviam em Curitiba. Eles estão em endereço desconhecido, sob proteção constante de seguranças contratados pelo jornal. A Gazeta do Povo também ajudará o jornalista a deixar o Paraná.
O GAECO (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão que também é responsável pelo controle externo das polícias no Paraná, tenta identificar os autores das ameaças.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lamenta e condena as ameaças feitas contra seu diretor, o repórter Mauri König.
Mauri é a vítima mais recente de uma escalada de violência contra jornalistas no Brasil. De acordo com o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), só em 2012, quatro jornalistas brasileiros foram mortos por exercerem sua profissão. Também por causa de ameaças, o repórter policial André Caramante, da Folha de S.Paulo, teve de se afastar da redação em setembro deste ano.
A Abraji cobra apuração célere das ameaças contra Mauri König, que são ameaças também à liberdade de expressão e à democracia. Tentar calar um repórter é atentar contra o direito de saber de toda a sociedade.
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