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Tributo à excelência

Por Alberto Dines

*Discurso proferido na solenidade de comemoração dos 75 anos do Prêmio Maria Moors Cabot, na Escola de Jornalismo da Universidade Columbia; Nova York, 21/10/2013

Infelizmente, esta noite não dispomos de tempo suficiente para fazer uma avaliação detalhada do impacto que teve o Prêmio Maria Moors Cabot nos últimos 75 anos. Mas a ideia é emocionante e merece ser aprofundada.

Portanto, decidi concentrar minhas breves observações nos brasileiros que receberam o prêmio até o final da década de 1970. Curiosamente, até então quase todos os vencedores eram donos de jornais ou publishers, muitos deles excelentes jornalistas, mas nem todos. Em 1941, por exemplo, a escolha de Paulo Bittencourt, um jornalista corajoso, dono e diretor do Correio da Manhã, foi justa e acertada. Mas a premiação de sua esposa, Sylvia Bittencourt, na mesma ocasião, não foi merecida. [De acordo com o jornalista Fuad Atala, que prepara um livro sobre o Correio da Manhã, Sylvia Bittencourt assinava uma coluna no jornal o pseudônimo de “Majoy”.]

A primeira e verdadeira exceção foi Alceu Amoroso Lima, em 1969. Era um cronista sério, crítico literário, a reserva moral da sociedade brasileira e se opunha com veemência à ditadura militar. Tive o privilégio de segui-lo, em 1970. E em 1974 foi a vez de Fernando Pedreira. Ele era o editor-chefe do jornal O Estado de S.Paulo e foi o terceiro profissional brasileiro a receber a medalha de ouro por sua postura de oposição à ditadura e à censura.

Desde então, só tivemos profissionais brilhantes, como Carlos Castello Branco, Otávio Frias Filho, Clovis Rossi, José Hamilton Ribeiro, Miriam Leitão (a primeira mulher), Carlos Eduardo Lins da Silva, Paulo Sotero e, agora, o primeiro repórter investigativo, Mauri König. Trata-se de um recorde notável que, com certeza, ainda irá melhorar [ver abaixo a lista dos brasileiros premiados].

A tendência inicial a premiar executivos dos jornais não era exclusivamente em relação ao Brasil. Também em outros países a escolha incidiu, em grande parte, numa elite de proprietários e publishers. Nada contra premiar os chefes: eles foram os pioneiros da indústria e alguns foram os fundadores de poderosos conglomerados ou importantes instituições jornalísticas. Mas os profissionais e os supervisores dão prosseguimento a esse legado: melhoram os padrões do ofício, são eles que são perseguidos e presos e, em muitas ocasiões, fuzilados. Fiquei satisfeito de observar uma tendência distinta entre os vencedores norte-americanos, a começar por 1938: a maioria dos prêmios foi concedida a profissionais de Redação, muitos deles especializados na cobertura da América Latina.

O fim da ditadura militar no Brasil realmente começou quando alguns jornais decidiram libertar-se da autocensura. Essa é uma lição que não podemos esquecer: a ditadura durou 21 anos porque as pessoas achavam que os regimes autoritários eram bons para os negócios.

A Constituição brasileira acabou de completar 25 anos e agora enfrentamos novos desafios, principalmente na mídia eletrônica – rádio e televisão –, onde organizações religiosas com ambições políticas despudoradas entram em confronto aberto com o secularismo de nossa legislação.

No Brasil, a grande mídia permanece altamente concentrada e não-competitiva, e a pequena imprensa independente não tem como sobreviver decentemente devido à ausência de incentivos. O resultado final é uma sucessão de lacunas geográficas e uma falta de diversidade – em outras palavras, uma meia democracia.

Terminarei dizendo que o próprio Prêmio Maria Moors Cabot merece um prêmio por tudo o que conseguiu durante seus primeiros 75 anos, tanto em termos de liberdade, como de paz, de cooperação e de excelência em jornalismo. Merecerá certamente muitas outras honrarias e tributos pelo que provavelmente irá conseguir nos próximos 75 anos. Com apenas um pouco de wishful thinking, espero ver vocês todos nessa data.

Artigo publicado originalmente no site do Observatório da Imprensa.




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Criado em 22/10/2013 - 12:43 e atualizado em 22/10/2013 - 12:43

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