Milagre em Juazeiro que a TV Brasil exibe neste sábado, 31, no Programa de Cinema, às 22h, é inspirado no livro Milagre em Joaseiro, escrito pelo norteamericano Ralph Della Cava. Fala sobre o fenômeno ocorrido na cidade cearense de Juazeiro do Norte, em que a hóstia virou sangue quando o Padre Cícero Romão ministrava a comunhão à beata Maria de Araújo. O filme, um misto de documentário e ficção, registra as romarias e festas populares religiosas, além de apresentar depoimentos de religiosos e pesquisadores sobre o que ficou conhecido como o "milagre de Juazeiro".
O filme recebeu os prêmios de Melhor Documentário, Festival Internacional de Montevidéu, Uruguai (2001); Melhor Filme e Melhor Ator (José Dumont), III Festival Luso-Brasileiro, Portugal (2000); Melhor Montagem, IV Festival de Cinema de Recife, Brasil (2000) e Melhor Atriz Coadjuvante (Marta Aurélia), e Especial do Júri, XXXI Festival de Brasília, Brasil (1999).
O diretor Wolney Oliveira é formado pela Escola de Cinema de San Antonio de Los Ba os, em Cuba. O cineasta cearense é diretor da Casa Amarela Eusébio Oliveira, do Departamento de Cinema da Universidade Federal do Ceará, e também coordenador do festival Cine Ceará. Em 1992, foi premiado com o Sol de Prata do Rio Cine Festival pelo documentário Sabor a mi (1992). Em 2007, estreou no 17º Cine Ceará seu primeiro longa de ficção, Ilha da Morte, uma co-produção entre Brasil, Cuba e Espanha. Seu projeto atual é o longa O Altar do Cangaço, que narra a história de ex-cangaceiros, coiteiros e volantes.
Wolney Oliveira falou à TV Brasil sobre a produção que levou cinco anos para ser concluída, as dificuldades que teve durante as filmagens - "não fiz um filme, paguei uma promessa" -, e como se surpreendeu diante da fé dos romeiros, se tornando também um devoto do Padre Cícero.
TV Brasil - Ao misturar documentário e ficção para levar às telas o "milagre de Juazeiro", que aspectos do episódio o senhor quis enfatizar no seu filme?
Wolney Oliveira - O tema do Padre Cícero já foi abordado varias vezes no cinema. Quando resolvi utilizar o "docudrama", misturando ficção e documentário, foi porque era fundamental resgatar na história a beata Maria de Araújo. O famoso milagre da hóstia transformada em sangue aconteceu com ela, portanto tentei resgatar a importância desta mulher no contexto religioso do Juazeiro do Norte. Maria de Araújo foi torturada pela Igreja Católica por ser negra, analfabeta, pobre e feia. É a historia desta mulher que eu quis resgatar.
TV Brasil - Já conhecia sobre o "mito" Padre Cícero? O contato com a realidade de Juazeiro do Norte e a fé do povo local que tem o religioso como um Santo influenciaram no roteiro o tratamento a ser dado ao personagem Padre Cícero?
Wolney Oliveira - Já conhecia a história, mas não as romarias. Com certeza o povo e os romeiros influenciaram na escolha da estrutura dramática do filme e no resultado.
TV Brasil - Quanto tempo levaram as filmagens, que dificuldades encontrou para documentar as romarias e o que o surpreendeu durante o processo de gravação?
Wolney Oliveira - Costumo dizer que não fiz um filme, "paguei uma promessa", pois realizei 10 viagens a Juazeiro do Norte, percorrendo no total mais de 10.000 km, filmando as três romarias várias vezes, e me tornando um romeiro e um devoto do Padre Cícero Romão Batista. Iniciei as filmagens em 1994 e conclui o filme em 1999. Fora as dificuldades financeiras, também tive dificuldades em encontrar representantes da Igreja que questionassem abertamente o Padre Cícero. Consegui isto com Dom Nilton, o bispo do Cariri na época das filmagens. O que mais me surpreendeu foram as romarias. É impressionante como um padre que faleceu em 1934 (Padre Cícero morreu em 20 de julho de 1934, em Juazeiro do Norte) mantém até hoje milhões milhões de romeiros que participam anualmente das romarias. É uma verdadeira catarse coletiva, Juazeiro é a Jerusalém brasileira.
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