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A história do programa Arte com Sérgio Britto contada pelo próprio ator e apresentador

Uma conversa agradável com o site da TV Brasil


 

Arte com Sérgio Britto está no ar há mais de 10 anos. Aos sábados, na tela da TV Brasil, o público tem a oportunidade de saber mais sobre cultura com esse monstro sagrado do teatro e da arte do país. Em 60 minutos e, com elegância e sabedoria, o ator apresenta, interpreta e declama a beleza das artes, que cultuou a vida toda. Além de atuar nos palcos e no cinema, o mestre fazia questão de divulgar, ensinar, incentivar e acompanhar a riqueza cultural. Tanto que, este ano, recusou novo convite da Rede Globo para voltar às novelas. Abriu mão de altos salários para continuar fazendo o Arte com Sérgio Britto na televisão pública.

Na última entrevista que deu ao site da TV Brasil, o ator e diretor contou como tudo começou. " Só quero fazer o que eu quero fazer", disse, lembrando episódios do passado que mostram sua personalidade firme e marcante. Na conversa, criticou a imprensa sensacionalista, comemorou os 20 anos de parceria com o CCBB e ainda revelou que estava trabalhando excessivamente na produção de seu livro, que virou leitura obrigatória de artistas e produtores de cultura.

Arte com Sérgio Britto não exibe notícias e não apela para o popularesco. Sua função é celebrar a arte. Não divulga desgraças, não é vulgar. Tem como objetivo refletir sobre o sentido de cada obra, seja na dança, no cinema, na literatura ou no teatro.

A ideia partiu da cabeça de outro Sérgio - o Cardia, produtor de Britto até os dias atuais - e estreou com o nome de Diário de Teatro. "Andamos rondando a TVE na época do diretor Mauro Garcia. Através dele, que eu entrei para a tv. Eu lembro que, logo de saída, nós tivemos algumas dificuldades", conta. A dificuldade era a imposição de um formato. Sérgio Britto lembra que protestou: "Não. Não faço! Formato eu não faço em programa nenhum. Quero ter liberdade para poder falar. Não vou me preocupar com formato, tamanho de pauta, as pautas que interessam... Não. Eu tenho que pensar aquilo que eu quero dizer, senão não é um programa meu. Senão eu não estou interessado".


Obviamente, a direção ficou assustada de início. Mas, como ele mesmo diz: "Nesse ponto eu sou danado, sabe? Eu sou muito teimoso, só quero fazer o que eu quero fazer". Acabaram concordando. Assim, entrou no ar o Diário de Teatro, que durou apenas alguns meses. Os assuntos rondavam o palco. Falava de teatro, falava de ópera, de dança e balé. Não comentava sobre cinema nem literatura.

Diário de Teatro tornou-se Arte com Sérgio Britto quando o diretor se deu conta de que o apresentador tivera uma vida tão rica, tão movimentada e se manteve sempre tão atualizado no tema arte, que lhe sugeriu abranger, especialmente para ópera, cinema e literatura.

Para Sérgio Britto, ópera é a mais sublime das artes. Seu pai lhe presenteou com uma assinatura do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Durante 6 anos, assistiu 60 óperas e 130 espetáculos. "Eu sou único que faz isso, talvez. Toda essa gente que fala de teatro, de cinema, toda essa gente é muito importante, eu sei que existem programas bastante interessantes, mas ninguém se dedica a ópera como eu me dedico", diz o apresentador.

Sérgio já dirigiu seis óperas e é tão fascinado que produziu e está produzindo programas inteiramente dedicados ao assunto. Ele explica que, ao contrário do que muita gente pensa, a ópera evoluiu mais do que o teatro. Grandes diretores como Willy Decker e Patrice Chereau ganharam programas especialmente dedicados.

Ao falar de cinema, Sérgio Britto faz uma pequena crítica aos traillers: "Naturalmente o cinema é a parte que hoje em dia, às vezes, não é tão brilhante, tão forte. Aliás, como são ruins os traillers! Impressionante! Há certos filmes que eu fico sem vontade de ver. O trailler me tira o apatite, depois o filme pode ser até bom"...

Sérgio fez um programa inteiro sobre o musical O Despertar da Primavera, de Frank Wedekind, montado no Brasil pelos diretores Caludio Botelho e Charles Möeler. "O Despertar da Primavera implica na peça inicial de Wedekind. Uma peça importantíssima. Tão danada essa peça, que foi escrita no século XIX, em 1891, e só foi apresentada pela primeira vez em 1974. Wedekind nunca viu a peça dele representada por conta da censura", revela.


O apresentador fala sobre a importante conquista da dupla de diretores brasileiros. Eles fizeram uma versão nova, adaptada, e os americanos aceitaram-na. "Pela primeira vez isso aconteceu. Nunca se ouviu isso. Porque geralmente o musical americano vem para o Brasil inteirinho como era lá. Não sei se por lá já chegou para eles a importância desta dupla. Aí está o Wedekind lá, o valor dele está lá presente", analisa.

Não há dúvida que o espetáculo é bastante provocador. Sérgio comenta que, no musical, há uma cena em que o rapaz possui a moça. Essa cena teve uma grande repercussão nos jornais, o que o deixou intrigado e decepcionado. "Eu acho que há a tendência no jornalismo, de falar do que é fracasso, do que é desastre, e do que pode ser pornográfico ou sensual, pelo menos. Pierre Baitelli, o ator que representa esse rapaz, tem seu bumbum a mostra durante esta cena. Já saiu no jornal que ele tem o bumbum muito bonito e que está chamando atenção e já perguntaram se ele depila. Isso é coisa séria?!", questiona boquiaberto. "O ator tem a coragem e a liberdade de tirar a calça e mostrar o bumbum dele de fora e o resumo da cena ficou só com essa imagem. Eles vão perguntar se ele se depila?! Há sempre uma tendência de vulgarizar as coisas", conclui Sérgio.

Quando perguntado sobre o valor que o programa Arte com Sérgio Britto representa em sua vida, falou: "Tenho prazer em fazer esse programa. Há dificuldades. Mas, eu fiz algumas coisas que me deram muita satisfação. Quando fiz uma homenagem à imigração japonesa, por exemplo. Eu fui num restaurante em Santa Teresa, conversar com a Tisuko sobre a comida, detalhes da preparação. Eu fui ver gente dançando Kabuki e Butoh, um tipo de teatro dramático japonês. Tudo detalhado, eu tive tempo de falar, eram 5 programas dedicados, foram quase 200 minutos. Marcou pra mim, pesou pra mim, uma memória muito agradável".

Outra memória muito agradável para Sérgio foi ao ar no dia 25 de outubro de 2010, em um programa especial sobre os 20 anos de sua parceria com o CCBB. Ele gravou nos espaços onde trabalhou e contou sobre suas estreias. "A gente não tinha ideia da importância que aquele centro ia ter. Realmente, é o centro de mais importância em divulgação de cultura. De facilidade do povo ver muita coisa, de ter uma biblioteca, um cinema, tem 3 teatros, tem exposições de pinturas, até de moda. Naquela cúpula acontecem coisas importantes", comenta com um sorriso no rosto. Sérgio inaugurou o CCBB com "Judas em Sábado de Aleluia" de Cirlei de Hollanda. Fez nove espetáculos lá.


Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil.

Criado em 27/10/2009 - 19:06 e atualizado em 27/10/2009 - 19:06

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