Pauta:
A próxima edição do Observatório da Imprensa vai debater o impeachment sofrido pelo presidente paraguaio Fernando Lugo e o posicionamento da mídia brasileira no caso. A reação da grande imprensa foi rápida. No sábado, a cobertura já era consistente, mas ao lado dela apareceram editoriais resignados com a destituição votada pelo Congresso do país vizinho, que fez um justiçamento sumário. A imprensa local não protestou.
Não seria o caso da imprensa brasileira, mais tradicional e comprometida com valores democráticos, questionar ao menos a rapidez do processo? Para cobrarmos o respeito às regras do jogo democrático aqui, também não temos que reclamar quando essas regras são quebradas em outros países?
Participam do programa ao lado de Alberto Dines, o correspondente da Newsweek, Mac Margolis e o diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, Bernardo Sorj. E, em São Paulo, o repórter do jornal O Globo, Flávio Freire. O programa ainda ouviu a opinião dos jornalistas José Roberto Burnier e Aluízio Maranhão.
Editorial:
Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
O inesperado impeachment do presidente Fernando Lugo escancarou a fragilidade das convicções democráticas na América do Sul. Dentro e fora do Paraguai.
Em Assunção, montou-se uma farsa parlamentar para atender as aparências e como resultado, um presidente eleito democraticamente foi escorraçado de forma sumária pela maioria oposicionista, nove meses antes de eleições onde seria julgado pelos eleitores.
Nos poderosos vizinhos, Brasil e Argentina, o golpe parlamentar não foi aceito tão resignadamente. Os governos de Cristina Kirchner e Dilma Rousseff reclamaram contra a ilegalidade. Decepcionante e mais do que isso, assustadora, foi a atitude contemplativa e acrítica da grande imprensa brasileira e portenha. Geralmente aguerridos e indignados quando percebem alguma ameaça às liberdades no continente, os três jornalões brasileiros e os dois argentinos foram indulgentes: estranharam o rito sumário no Congresso mas acabaram conformados com o acatamento pelo Judiciário do putsch parlamentar.
Se a imprensa argentina e brasileira estivessem mais comprometidas com a democracia, os respectivos governos teriam sido mais veementes em repudiar o golpe. Foi pífia a penalidade imposta ao Paraguai na reunião do Mercosul em Mendoza: suspender o Paraguai até as próximas eleições e substitui-lo pela Venezuela (que não chega a ser um pilar democrático). É um convite para que a América Latina volte ao regime do relativismo e das ambiguidades.
E tudo porque o golpe paraguaio aconteceu na véspera do fim de semana e os editorialistas brasileiros estavam sem ânimo para assumir o seu papel de defensores da democracia.
Dos Telespectadores:
E-mails:
Cláudio dos Santos Rodrigues
Dines, numa situação hipotética, digamos que não fosse no Paraguai mas na Venezuela e Hugo Cháves fosse o vice-presidente e tivesse o Congresso a seu favor. Se ele tivesse tirado o Presidente da forma como foi retirado no Paraguai, ainda que formalmente constitucional, você acredita que a imprensa brasileira teria se comportado da forma complacente como se comportou com Lugo?
Pedro Ferreira
Boa noite! Na minha opinião, poderia se traçar uma paralelo entre o impeachment de Fernando Collor e Fernando Lugo. Creio que, desta forma, seria mais fácil identificar as diferenças entre um processo feito às claras e o outro feito aparentemente na surdina. Quanto à democracia, creio que quase todos os países do Mercosul dependem exclusivamente da imprensa para trazer as questões à luz. Pois os demais setores da sociedade aqui no Brasil, em especial os sindicatos e entidades de classe, estão na política fazendo o jogo político dos partidos e atendendo a interesses próprios travando uma guerra entre si. A grande questão que deve servir de alerta é o Senado e Câmaras federais, estaduais e municipais do Paraguai terem feito uma coisa usual aqui no Brasil: passar projetos polêmicos no final de sessões em dia de pouca atenção da sociedade.
Telefonemas:
Paulo Jorge Gonçalves, Rio de Janeiro
Gostaria que os participantes comentassem sobre a posição favorável da Suprema Corte paraguaia sobre o caso.
José Orestes da Silva, São José dos Campos / SP
O impeachment do presidente Lugo poderia ser o início da Primavera “Latinoamericana”?
Kleber Vital, Recife / PE
Podemos definir como golpe legal o impeachment de Fernando Lugo?
Adelaide Leite, São Paulo
Vocês acham que os EUA e as multinacionais – principalmente a Monsanto – tiveram alguma responsabilidade no impeachment de Lugo?
João Martins, Ribeirão Preto / SP
Podemos afirmar que ocorreu um golpe da direita no Paraguai?
Anderson Luís da Silva, Rio de Janeiro
Para mim, isso é um golpe parlamentar maquiado de ação constitucional.
Bruno Eduardo, Rio de Janeiro
Eu acho que o Brasil deve respeitar a autonomia do Paraguai.
Fabiano Felix, Recife / PE
Até que ponto o presidente eleito tinha um tipo de acordo para aceitar essa derrota sem ter direito a recorrer?
Flávio Luiz, Rio de Janeiro
O que os participantes acham da entrada da Venezuela no Mercosul?
Mauro Guthes, São Paulo
É um ato sumário a queda do presidente Lugo, mas é um ato sumário tão grande quanto esse a expulsão do Paraguai do Mercosul. Isso não fere as normas que constituem o bloco?
Assista na Íntegra:
Apresentação: Alberto Dines
Como assistir
Participe
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