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Nelson Freire

Documentário dirigido por João Moreira Salles celebra vida e obra do

Cine Nacional

No AR em 14/11/2015 - 00:56

O documentário acompanha o artista em vários concertos pelo mundoSexta-feira, 13 de novembro de 2015, às 23h

Nelson Freire, pianista dos pianistas, conta com a admiração incondicional de seus pares. Grava pouco e por isso sua extraordinária arte é menos conhecida do que merece. Assim como outros grandes músicos, Nelson apostou toda sua carreira na espontaneidade de recitais e concertos.

Em tempos de exibicionismo, Nelson prefere se manter distante da curiosidade pública. Trata-se de um artista que não gosta do estrelato, e que parece ter uma inabilidade inata para a autopromoção. O filme mostra antes de tudo a relação de Nelson Freire com a música.

Como um mosaico, o documentário é feito de um conjunto de peças relativamente independentes. São 31 blocos temáticos que em princípio poderiam ser montados em qualquer ordem. Não se trata de contar uma história com começo, meio e fim. É como se o documentário nos fizesse querer ouvir mais música, e não saber “como a história continua”. É na música que está o sentido.

O filme acompanha algumas rotinas de Nelson em concertos ou recitais, desde o primeiro contato com o piano até a recepção dos admiradores no camarim. Ele é o mesmo e um só em qualquer palco. As imagens se repetem de uma sala a outra. Nelson sempre experimenta o piano com um dedilhado rapidíssimo. Enquanto espera o momento de entrar no palco, anda em silêncio de um lado para o outro, concentrado. Quando volta ao camarim depois de tocar, precisa tomar água. Terminado o concerto, cumpre o ritual dos cumprimentos.

Uma singularidade do documentário está na ausência de depoimentos sobre Nelson. O filme não buscou o testemunho de amigos ou parentes, de outros músicos, de críticos ou de simples admiradores. A única exceção é a formidável pianista argentina Martha Argerich, com quem Nelson mantém uma amizade de mais de quatro décadas. Foi por causa do amigo de adolescência que ela aprendeu a falar português.

A música domina a narrativa do filmeO documentário mostra um pouco dessa longa amizade no Sul da França, onde eles se apresentaram juntos num festival de verão, tocando peças para dois pianos. Na casa de Martha em Bruxelas há um documento raro: Nelson e Martha longe dos palcos, recolhidos numa intimidade descontraída. Qualquer música que façam é extraordinariamente bela, e no entanto parece que brincam de tocar.

De certa forma, este é um longa-metragem silencioso, tal como Nelson Freire. Para mostrá-lo como personagem, é preciso rodeá-lo: mostrá-lo através das coisas que faz, das coisas de que gosta.

Um dos blocos temáticos traz um documentário dentro do documentário. No Sul da França, foi registrada a filmagem de um programa para a TV francesa em que Nelson Freire é posto na posição de ator, de alguém que precisa atender docilmente às instruções de um diretor cuja pródiga imaginação é exercida com desenvoltura.

Ali há uma teatralização que parece exatamente o oposto do que Nelson é. Ele está a serviço de uma ideia pré-concebida; é orientado a produzir efeitos preestabelcidos. A pergunta final do diretor francês ao pianista - uma pérola do determinismo geográfico - resume a cena: “O fato de você ser de um país quente muda alguma coisa na sua maneira de tocar?”.

Ao piano, nenhuma introspecção ou timidez

Embora montado como um mosaico, o documentário registra fragmentos de uma história completa, indicando uma linha de continuidade entre a infância e a maturidade. Os fatos e imagens escolhidos refazem o fio histórico que transformou o menino-prodígio do interior de Minas no pianista que se tornou unanimidade internacional.

Duas cartas emocionadas - uma do pai, outra da professora Nise Obino - apreendem com naturalidade o destino do pequeno músico. Com movimentos econômicos, sem pressa, o documentário se aproxima de Nelson e encontra uma solidão, um temperamento introspectivo, uma alegria contida como os seus gestos no piano, uma serena responsabilidade com a música, uma notável capacidade de criar a beleza.

Gravado no Rio de Janeiro, São Paulo, França, Bélgica e Rússia, entre maio de 2000 e agosto de 2001, o filme “Nelson Freire” é dirigido pelo cineasta João Moreira Salles.

Inédito. 107 min. Classificação indicativa: Livre
 




Ano: 2003. Gênero: documentário. Direção: João Moreira Salles.

Classificação Indicativa: Livre

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Criado em 22/05/2015 - 14:45 e atualizado em 12/11/2015 - 08:23

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