Na batida de seu violão e com o estilo de cantar à meia-voz, o músico João Gilberto inaugurou um novo som e criou a bossa nova. Com as chamadas canções-manifesto “Desafinado” e “Samba de uma nota só”, a bossa ganhou o mundo. Até hoje, é celebrada pelas letras poéticas de Vinicius de Moraes e a melodia sofisticada de Tom Jobim. No mês em que o pai do movimento saiu de cena, o Caminhos da Reportagem mostra que o gênero musical vai muito além das criações de sua “santíssima trindade” e que ainda se renova a cada geração.
Pioneiro do movimento, o cantor, compositor e pianista Johnny Alf é uma figura pouco celebrada. Segundo o biógrafo do artista, João Carlos Rodrigues, autor de “Johnny Alf: duas ou três coisas que você não sabe”, no entanto, há quem diga que a tal nova batida teria vindo do piano de Johnny antes do violão de João Gilberto. Por não pertencer à turma da zona sul carioca, Johnny ficou à margem do sucesso de seus contemporâneos: “Ele era dez anos mais velho, pobre, preto, do subúrbio e gay”, afirma. “Mesmo sendo o grande, o que vinha ser consultado para opinar sobre as harmonias, ele não tinha o contato pessoal”.
Parceiro de Tom Jobim em músicas como “Desafinado” e “Samba de uma nota só”, também o músico Newton Mendonça permanece desconhecido do grande público. Para o biógrafo Marcelo Câmara, autor de “Caminhos cruzados: a vida e a música de Newton Mendonça”, ele deveria ser celebrado como o mais importante compositor da bossa nova: “Mais importante pela ousadia, pela transgressão, pela novidade. Ele foi experimental e autor dos clássicos junto com Tom e também sozinho”, destaca.
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Das mulheres que cantaram a bossa nova, apenas Nara Leão, musa do movimento, recebeu o devido destaque. As mais famosas reuniões de amigos, que deram à bossa a alcunha de “música de apartamento”, aconteciam em sua sala, no bairro de Copacabana (RJ). A cantora marcou o engajamento de sua música com questões sociais ao se aproximar de sambistas como Cartola, Zé Keti e Nelson Cavaquinho. Essa maior preocupação social é marca da chamada segunda geração da bossa, que trouxe para o movimento a diversidade de sons do país.
Com os depoimentos de quem esteve ao lado de João Gilberto, Tom e Vinicius, como os músicos João Donato, Joyce Moreno e Wanda Sá, o Caminhos da Reportagem destaca que a bossa nova não envelhece e que, sobre ela, ainda há muito a se contar.
Ficha Técnica
Reportagem: Thiago Pimenta
Edição de texto: Luciana Góes e Renata Cabral
Edição de imagem: André Garzuze
Produção executiva: Samantha Ribeiro e Elizabete Pinto
Produção: Natália Neves
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