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Órfãos do feminicídio

Um crime além da mulher

Caminhos da Reportagem

No AR em 28/05/2023 - 22:00

No Brasil, uma a cada quatro mulheres foi vítima de algum tipo de violência de gênero em 2021, segundo a pesquisa Visível e Invisível, do Fórum Nacional de Segurança Pública. Mas em 2022, para 1,4 mil mulheres o destino foi além da agressão, chegando à morte: o feminicídio. Um crime que não faz apenas a vítima fatal, mas impacta a família e, principalmente, os filhos da mulher assassinada. 

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Nicelia, mãe de uma das vítimas de feminicídio, por Divulgação/TV Brasil

A filha de Nicelia Vitor de Oliveira Pimenta, Jéssica, faz parte das estatísticas. Morta pelo marido, em novembro de 2022, ela deixou 2 filhos, um de 13 e outra de 7 anos. Dias antes do assassinato, o marido da vítima havia tomado o celular dela. Nicelia descobriu que a filha tentou pedir ajuda dias antes. “No mesmo dia (que o marido pegou o celular), ela foi na delegacia pedir uma medida protetiva, mas não sei porque ela não fez”, conta. A mãe se pergunta se a filha foi ouvida e tratada de uma forma que não se sentiu segura para prosseguir com a denúncia.

“Quando a gente vai a qualquer instituição buscar socorro, a primeira coisa que se quer é um bom acolhimento, um olhar especializado e que entenda de forma técnica o que você está passando”, avalia Gislaine Campos Reis, coordenadora do Núcleo Judiciário da Mulher, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). 

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Maioria dos assassinos são companheiros, ou ex - Divulgação/TV Brasil

Difícil saber o que houve no dia e se um atendimento diferenciado teria evitado a morte de Jéssica. A realidade é que hoje a avó, além de lidar com o próprio luto, também precisa acolher a neta. “Na consulta dela com a psicóloga, eu falei que preciso dar um retorno, ela sempre me pergunta o que aconteceu com a mãe. Como é que eu falo? Porque ela sabe que o pai matou a mãe e onde colocou o corpo, ela sabe”, conta a avó.

Além dos traumas do crime nas crianças, muitas vezes o feminicídio também abre portas para outros tipos de violência. Foi o caso de uma jovem de 19 anos, que hoje vive em um abrigo de Brasília e não quis se identificar. Aos 5 anos, ela viu a mãe morrer morta pelo pai, que não foi preso. A criança e os irmãos foram viver com a avó paterna, que os maltratava. Aos 13 anos, ela se mudou para a casa do pai e foi vítima de abuso sexual. “Quando eu contei do abuso para a minha família, simplesmente falaram que era mentira minha, que eu estava querendo botar meu pai na cadeia”, conta.

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 Maioria das vítimas não denuncia agressores
- Divulgação/TV Brasil

O psiquiatra André Salles, especialista em infância e adolescência, também explica que as agressões, muitas vezes, já ocorrem antes da morte, e os filhos podem começar a ver esse tipo de situação como normal. “São crianças que vivem em uma situação de violência prévia e acabam entendendo no seu desenvolvimento que a resposta às injúrias, às dificuldades do ambiente, deve ser feitas de uma maneira violenta”, explica.

Só no Distrito Federal, no primeiro trimestre do ano, houve um aumento de 350% dos casos de feminicídio. Uma das vítimas desse ano foi esfaqueada no meio da rua pelo ex-companheiro, em frente ao filho dela de 13 anos. Segundo a família, a vítima havia

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Jovem viu mãe ser morta e pai não ser preso
 - Divulgação/TV Brasil

pedido medida protetiva contra ele, que já tinha várias passagens pela polícia. 

O assassino havia sido preso semanas antes por tentar invadir a casa dela. Assim que foi solto, cometeu o feminicídio. Hoje, está preso preventivamente. O filho e testemunha do assassinato da mãe está morando com uma tia, sabe que vai carregar o trauma pelo resto da vida. E só tem um desejo: “que ele fique preso e me deixe em paz, eu e minha família”.

O assunto é o tema do episódio Órfãos do feminicídio, do Caminhos da Reportagem, vai ao ar neste domingo, 28/05, às 22 horas na TV Brasil.

Ficha técnica:

Reportagem: Gracielly Bittencourt
Produção: Cleiton Freitas e Gabriella Braz (estagiária)
Reportagem cinematográfica: Sigmar Gonçalves, Rogério Verçoza, Osvaldo Alves, Jorge Brum
Auxílio técnico: Dailton Matos, Alexandre Souza, Marcelo Vasconcelos, Thiago Pignata
Apoio imagens: Robson Moura, André Pacheco, Gilvan Alves
Apoio técnico: Jairo Rio Branco, Rafael Calado
Edição de texto: Carina Dourado
Edição de imagens e finalização: Jerson Portela
Arte: Julia Gon e André Maciel

 

Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil.

Criado em 25/05/2023 - 13:55

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