Digite sua busca e aperte enter

Compartilhar:

Arte Demarcada: o levante indígena nas artes

Caminhos da Reportagem

No AR em 11/06/2023 - 22:00

A luta dos povos indígenas passa também pela demarcação de territórios no mundo das artes. O momento que eles estão vivendo é inédito na cultura brasileira, com o grande número de exposições nos principais museus de arte do Brasil. Um dos mais importantes, o Museu de Arte de São Paulo (Masp), escolheu como centro de sua programação, para este ano, exposições e atividades relacionadas à cultura indígena.

A artista plástica Kássia Borges Karajá
A artista plástica Kássia Borges Karajá - Arquivo pessoal/ Aline Beckstein

"Eu acho que é um ganho muito grande para a gente, para nós indígenas e para a sociedade não indígena também”, defende a artista plástica Kássia Borges Karajá. “Antigamente, a nossa arte ficava restrita aos museus etnográficos, como se a gente tivesse morrido, como se só existissem objetos para contar a história desse povo que morreu!  Só que nem toda etnia foi extinta”, avalia a artista, que faz parte do trio de curadores indígenas convidados pelo Masp.

No primeiro semestre deste ano, o museu dedicou espaço para duas grandes exposições de artistas plásticos indígenas: uma delas foi a do coletivo Mahku (Movimento dos Artistas Huni Kuin), que reúne representantes da maior etnia indígena do Acre, além da própria Kássia Borges Karajá, que entrou para o grupo em 2018. O Mahku foi criado dez anos atrás pelo indígena Ibã Huni Kuin que resgatou, através da pesquisa com seu pai, cantos xamânicos tradicionais do seu povo. 

A artista Macuxi Carmézia Emiliano é uma das pioneiras na pintura de telas
A artista Macuxi Carmézia Emiliano é uma das pioneiras na pintura de telas - Divulgação/TV Brasil

O outro destaque foi a individual da artista plástica Macuxi Carmézia Emiliano. Carmézia é considerada uma pioneira entre os indígenas e já pinta telas há mais de 30 anos. Entre os temas de sua obra, estão as pinturas sobre o mito Macuxi de criação do Monte Roraima. 

Seguindo a mesma tendência de reconhecimento de artistas indígenas, a Pinacoteca de São Paulo está ampliando o seu acervo com a aquisição de obras de nomes como Denilson Baniwa e Jaider Esbell, que morreu em 2021.

A antropóloga Elsje Lagrou mostra grafismos de indígenas do Acre
A antropóloga Elsje Lagrou mostra grafismos de indígenas do Acre - Divulgação/TV Brasil

A antropóloga Elsje Lagrou, que há mais de 30 anos pesquisa a cultura de povos originários da Amazônia, avalia a importância da arte como instrumento de valorização dos territórios indígenas e da própria floresta: “A ligação entre a arte indígena contemporânea e as lutas em defesa do meio ambiente é totalmente intrínseca. Todos esses artistas trabalham a partir dos seus territórios, seus territórios ancestrais, cosmológicos e de pertencimento”, disse.

Elsje Lagrou também destacou o chamado “artivismo”, arte com ativismo, de indígenas como Jaider Esbell que denunciou por meio de suas obras o desmatamento e pressão do agronegócio em Roraima, seu estado de origem. E do resgate promovido por ele de mitos indígenas como o “Makunaimã”, considerado pelos Macuxi como “grande criador e transformador”, mas que entrou para a literatura como “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter” do modernista Mário de Andrade. 

O artista indígena Denilson Baniwa trabalhando na Pinacoteca de SP
O artista indígena Denilson Baniwa trabalhando na Pinacoteca de SP - Arquivo pessoal/ Aline Beckstein

Na Pinacoteca de São Paulo, está em cartaz a primeira exposição individual, num museu, de Denilson Baniwa. O artista visual amazonense tem ainda uma trajetória reconhecida como curador e ativista, além de ser um dos fundadores da rádio indígena Yandê. Foi dele também a direção de arte da releitura crítica da ópera “O Guarani”, no Theatro Municipal de São Paulo, no mês passado.

“Eu visito vários tipos de museus no Brasil e sempre estou encontrando a produção de algum artista indígena. E a gente tem que lembrar que quatro anos atrás, isso não acontecia. Então, de quatro anos para cá, nós estamos ocupando uma série de espaços importantes”, avalia Denilson. 

Ficha Técnica:

Reportagem e roteiro: Aline Beckstein
Reportagem cinematográfica: Aline Beckstein, Cadu Pinotti (SP), Gilmar Vaz do Carmo, João Marcos Barbosa (SP), Sandro Tebaldi (RJ)
Produção: Aline Beckstein
Apoio à produção: Thiago Padovan (SP), Rafael Mesquita (RJ), Thais Chaves (RJ), Luiz Filipe Lima (estagiário)
Auxílio técnico: Ivan de Souza Meire (SP), Jone Geraldo Ferreira (SP), Cláudio Tavares (RJ)
Edição de imagens e finalização: Eric Gusmão
Gerente de reportagem RJ: Bárbara Pereira 

Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil.

Criado em 09/06/2023 - 15:10

Últimas

O que vem por aí