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Clima: uma questão de justiça

Caminhos da Reportagem

No AR em 23/07/2023 - 22:00

No início de julho deste ano, o planeta registrou o dia mais quente da história das medições, iniciada em 1979. Os termômetros marcaram a média mundial de 17,18°C, segundo a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos. Os cientistas afirmam que esse recorde pode ser quebrado em breve. Ondas de calor, chuvas que destroem cidades, aumento do nível dos oceanos são alguns dos efeitos das mudanças climáticas causadas pela emissão de gases de efeito estufa.

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Manguezal na Baía de Guanabara - Divulgação/TV Brasil

E especialistas são categóricos ao afirmar que o aumento da temperatura foi impulsionado pela ação humana:  “algumas décadas atrás, a gente poderia falar que se observavam as mudanças climáticas, alterações da temperatura, eventos extremos e a gente não podia dizer que tinha um papel humano nisso;  hoje em dia a gente já não tem mais como falar desse processo, é inequívoco”, destaca Marília Closs, pesquisadora da Plataforma Cipó,  instituto de pesquisa dedicado a questões de clima, governança e relações internacionais.

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O aumento da temperatura foi impulsionado pela ação humana, afirma Marilia Closs, pesquisadora da Plataforma Cipo - Divulgação/TV Brasil

Em todo o planeta, a estimativa é que três bilhões de pessoas sofram com as alterações no clima, de acordo com estudos de cientistas do IPCC 一 Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Alexandre Prado, especialista em mudanças climáticas da WWF Brasil, alerta que as populações mais vulneráveis vão suportar os maiores impactos: “são as pessoas que moram em uma situação muito precária, seja em favela ou em casa de madeira, e não têm acesso a serviço básico; então, a hora que inunda, a água está passando dentro de casa, pega doença, aí vai para um hospital que é geralmente em periferia, tem uma situação também mais precária”.

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Quilombo Dona Bilina - Divulgação/TV Brasil

Alaildo Malafaia trabalhou exclusivamente com pesca na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, por mais de trinta anos. Hoje ele diz que o pescado diminuiu. “Várias comunidades de pescadores estão perdendo a casa pela invasão do mar, e a diminuição do pescado (...), essa renda, está deixando de chegar no bolso do pescador”, afirma Malafaia.

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Alaildo_Malafaia, que é pescador e condutor de ecoturismo, conta que muitos pescadores estão perdendo suas casas por causa das inundações e da falta de dinheiro - Divulgação/TV Brasil

“O principal impacto sobre os manguezais observado atualmente é a elevação do nível do mar. Porque o manguezal ocupa a região entre-marés, ele está na zona costeira, entre a área que a maré alta atinge e a área da maré baixa. Se o nível do mar está subindo, esse ecossistema vai ser diretamente afetado, porque essa zona aqui que antes era entre-marés começa a ficar inundada”, explica Mário Soares, oceanógrafo e coordenador do Núcleo de Estudos em Manguezais (NEMA/UERJ).  A conservação dos mangues por pescadores e catadores de caranguejo é uma questão de sobrevivência, segundo Breno Herrera, analista ambiental do ICMBio. “Essas mulheres e homens que vivem e dependem dos manguezais são os melhores guardiões desse ecossistema”, afirma Herrera.

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As comunidades tradicionais denunciam a invisibidade de suas lutas pela preservação do meio ambiente. Na foto, Máximo Nunes de Oliveira, griô e quilombola - Divulgação/TV Brasil

O quilombola Máximo Nunes reclama das chuvas neste ano, reflexo das alterações climáticas: “Esse ano choveu fora de época, em abril, março, até janeiro que chove uma vez ou duas, choveu quase o mês todo. É chuva pesada, então para as plantas não é bom”. Na COP 27, comunidades quilombolas denunciaram a invisibilidade de sua luta e mostraram a importância da manutenção nos territórios da preservação ambiental.

Mercedes Bustamante, presidente da CAPES e consultora do IPCC, observa que “a extensão de áreas protegidas ou com natureza ainda relativamente intacta são aquelas que hoje estão sob custódia dos povos originários”: “Eles têm um papel fundamental na resposta de mitigação, porque essas áreas preservadas continuam sendo sumidouros de carbono, e, ao mesmo tempo, as áreas preservadas são áreas importantes também para adaptação, para preparar para esse futuro de instabilidade”, defende. 

Populações vulneráveis são as mais afetadas pelas mudanças climáticas
Populações vulneráveis são as mais afetadas pelas mudanças climáticas - Divulgação/TV Brasil

“As populações estão preparadas de formas diferentes para esse problema, então a resiliência climática, que é uma palavra que se usa para dizer o quão preparada está aquela sociedade vai ser muito determinante para dizer se esses impactos vão ser impactos, por exemplo, que podem custar até vida”, completa Stela Herschmann.


Ficha técnica:

Reportagem: Priscila Thereso
Roteiro e edição de texto: Luciana Góes
Edição e finalização de imagem: Eric Gusmão
Produção: Luciana Góes e Priscila Thereso
Apoio à produção: Luiz Filipe Lima  e Yuri Griem (estagiários)
Reportagem Cinematográfica: Eduardo Guimarães, Eusébio Gomes e Rodolpho Rodrigues
Auxílio Técnico: Adaroan Barros, Claudio Tavares e Felipe Messina
Arte: Alex Sakata e Caroline Ramos

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Criado em 19/07/2023 - 16:45

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