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Mulheres à frente - retratos da desigualdade

Caminhos da Reportagem

No AR em 13/08/2023 - 22:00

Nos últimos dez anos, a maioria (51%) dos lares brasileiros passou a ser chefiado por mulheres, segundo um recorte da última PNAD Contínua, do IBGE. Em 2012, a liderança era dos homens, em 64% dos domicílios. A equipe do Caminhos da Reportagem entrevistou chefes de família, que revelaram várias situações - algumas a serem comemoradas, outras nem tanto.

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Siomara Damasceno trabalha em ramo predominantemente masculino - Divulgação/TV Brasil

A empresária Siomara Damasceno, de Brasília, é a cabeça dos negócios e da família, formada também pelo marido e o filho. Ela é dona de uma loja de materiais de construção e se tornou consultora a partir de vídeos que faz sobre o assunto para a internet. “Eu acho que quando o homem é chefe da família, não passa pela cabeça dele se a escola do filho está ensinando o que realmente prometeu no dia da matrícula, essas preocupações menores não passam pela cabeça dele”, exemplifica.

Mesmo sendo um caso de sucesso nos negócios, Siomara enfrenta preconceito. Ela conta que ao participar de um encontro nacional de sua área, a empresária diz que sentiu o machismo. “Eu estava há três dias no evento respondendo porque meu marido não veio, eles não viam que eu era a representante da minha loja”, conta. Para Renata Malheiros, coordenadora nacional de Empreendedorismo Feminino do Sebrae, as mulheres têm que se destacar em competências técnicas e socioemocionais, o que nem sempre é exigido dos homens. “Ainda vemos muitos olhares e conversas que são, na verdade, vieses inconscientes baseados em estereótipos de gênero”, afirma.

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Empresária Daniela Lacerda sente discriminação por ser nordestina - Divulgação/TV Brasil

A empresária Daniela Lacerda também sente essa diferença. Dona de uma rede de supermercados em Feira de Santana, na Bahia, há ainda quem se espante com sua liderança. “Eu encontrei muito mais barreiras e olhares minuciosos sobre a minha competência”, conta. Por ser nordestina, a empresária afirma que os preconceitos são ainda maiores. “A gente sente um pouco de xenofobia, de preconceito por ser jovem, mulher e nordestina, o sotaquezinho, às vezes, incomoda”. Mas ela é categórica: “meu oxente ainda vai ultrapassar muitas barreiras”.

O Nordeste é a região brasileira onde há mais mulheres chefiando lares no país, em 53% das residências, de acordo com a PNAD Contínua. Já no Sul e Sudeste, a maior responsabilidade ainda recai sobre os homens, com 51,3% e 51,2%, respectivamente. 

A aposentada Maria das Dores relembra a época pós-divórcio, em que criou os três filhos sozinha. Trabalhando de segunda a domingo, ela ainda conseguiu construir uma casa, mesmo com o dinheiro apertado. E reflete, ao relembrar o que passou: “eu sei que eu fiz tudo que eu podia e mais um pouco, mas se uma pessoa sozinha faz o que eu fiz, imagina se eu tivesse mais suporte financeiro”.

Para a economista e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ana Luiza de Holanda Barbosa, o dado que a maioria das famílias são chefiadas por mulheres também revela uma outra face da realidade: a feminilização da pobreza. “Elas ganham menos que os homens, estão em empregos mais vulneráveis e quais são as implicações disso para essas famílias? Entre as famílias pobres, você tem uma maioria de famílias chefiadas por mulheres”, avalia.

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Iraldes criou oito filhos sozinha com dificuldades - Divulgação/TV Brasil

A diarista Iraildes Rodrigues vive isso na pele. Ela vem de uma geração de mulheres abandonadas por seus maridos, em que as mães se responsabilizaram pela família. Vivendo em um barraco de madeira, em uma invasão na capital do país, ela passou fome e teve dificuldades em criar os oito filhos. “O mais velho cuidava dos menores, porque se eu pagasse alguém, eles não teriam o que comer”, lembra.

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Débora Thomé, da FGV, diz que maior parte de chefes de famílias pobres são mulheres pretas e pardas - Divulgação/TV Brasil

Este é o retrato das mulheres chefes de família da linha da pobreza, segundo Débora Thomé, cientista política e pesquisadora do Centro de Política e Economia do Setor Público (CEPESP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Quando você observa esse grupo, a maior parte das pessoas é de mães, pretas e pardas, que cuidam sozinhas de seus filhos, que não têm com quem compartilhar a renda. É um grupo ultra prioritário para se pensar em políticas públicas”, afirma.

Essas e outras histórias que mostram a realidade das mulheres que lideram os lares brasileiros estão no próximo episódio do Caminhos da Reportagem, Mulheres à frente - retratos da desigualdade, que vai ao ar neste domingo (13), às 22h, na TV Brasil.

Ficha técnica

Reportagem: Gracielly Bittencourt 
Produção: Gracielly Bittencourt , Cleiton Freitas e Gabriela Braz (estagiária)
Apoio produção: Aline Beckstein (RJ), Priscila Thereso (RJ) Louise Farias (TV Feira - BA), Gilvan Rodrigues (TV Feira - BA)
Repórter Cinematográfico: André Pacheco
Apoio reportagem cinematográfica: Robson Moura, Sigmar Gonçalves, Gabriel Penchel (RJ), Gilson Machado (RJ), Junior Araujo  (TV Feira - BA) e Carlos Gomes (TV Feira - BA)
Auxilio técnico: Alexandre Souza e Dailton Matos
Apoio auxílio técnico: Carlos Júnior (RJ) e  Claudio Tavares (RJ)
Edição de texto: Carina Dourado
Edição de imagens: Rivaldo Martins
Artes: Caroline Ramos e Alex Sakata

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Criado em 08/08/2023 - 17:35

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