Digite sua busca e aperte enter

Compartilhar:

Maconha: proibicionismo e reparação 

Caminhos da Reportagem

No AR em 08/10/2023 - 22:00

Cientificamente conhecida como Cannabis, a maconha é uma planta exótica, ou seja, não é nativa do Brasil. Pesquisadores apontam que ela chegou ao País já no século 16, trazida por africanos escravizados, e logo disseminou-se também entre indígenas. Tanto no Brasil como mundo afora, são diversos os tipos de usos. Há cerca de um século a maconha passou a ser alvo de criminalização. Mais recentemente, usos medicinais e terapêuticos têm demonstrado benefícios da maconha, ajudando a levantar um debate na sociedade sobre saúde e bem-estar, proibicionismo e a política de guerra às drogas. 

Cannabis chegou ao Brasil no século 16, trazida por africanos escravizados
Cannabis chegou ao Brasil no século 16, trazida por africanos escravizados - Divulgação/TV Brasil

Levantamento da Fundação Oswaldo Cruz indica que 7,7% dos brasileiros assumiram já ter utilizado maconha alguma vez na vida. É a droga ilícita mais consumida no mundo. A proibição contribuiu para que o Brasil passasse a ter a terceira maior população carcerária do mundo. São cerca de 840 mil pessoas presas, de acordo com a Secretaria Nacional de Políticas Penais - quase 30% delas devido ao tráfico de drogas. “Tem muita gente morrendo por causa da maconha que nem tem problema de saúde, muitas vezes nem fuma. Só de estar na favela já é suficiente para a pessoa tomar um tiro perdido. E tudo isso com a desculpa da guerra às drogas”, diz o ativista Gilberto Castro, que faz uso terapêutico da Cannabis para a esclerose múltipla, diagnosticada há mais de 20 anos. 

O óleo de Cannabis já vem sendo utilizado por pessoas com diversas condições de saúde, como Alzheimer, Parkinson e depressão, além de insônia e ansiedade. Cidinha Carvalho e o marido Fábio Carvalho produzem o óleo para tratar a filha Clárian, que tem Síndrome de Dravet, doença rara que causa atraso no desenvolvimento cognitivo e crises epilépticas que podem durar horas. “Enquanto não vinha a cura, eu buscava o alívio. E de fato a maconha foi a única substância que tirou minha filha do risco de morte súbita”, diz Cidinha. 

Cidinha e Fábio encontraram na maconha a solução para tratar os efeitos da Síndrome de Dravet em Clárian
Cidinha e Fábio encontraram na maconha a solução para tratar os efeitos da Síndrome de Dravet em Clárian - Divulgação/TV Brasil

O plantio e a produção do óleo só foram possíveis por meio de habeas corpus preventivo na Justiça. O advogado Emílio Figueiredo atua há anos com famílias que buscam liberação para plantio da maconha para fins terapêuticos, e conta que nos últimos anos o número de processos se multiplicou: “Em março de 2020, a gente tinha cem habeas corpus. Na pandemia aumentou a necessidade, e teve um boom de habeas corpus. Hoje eu trago para uma ordem de grandeza o número de 4 mil habeas corpus”. Ele faz parte da Rede Reforma, associação que reúne advogados que defendem uma mudança na atual política de drogas, marcada pelo proibicionismo. 

Cidinha Carvalho ganhou na Justiça o direito de produz óleo da Cannabis para tratar a filha
Cidinha Carvalho ganhou na Justiça o direito de produz óleo da Cannabis para tratar a filha - Divulgação/TV Brasil

Atualmente, o STF discute a liberação do porte de maconha para consumo pessoal. Até o momento, a votação está em 5 a 1 a favor da liberação. A medida é vista por algumas entidades da sociedade civil como um primeiro passo para reformar a política de drogas no País, porém parte do Poder Legislativo não vê a medida com bons olhos. Recentemente, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), disse que os líderes dos partidos da casa pretendem apresentar uma PEC para tornar crime a posse e o porte de qualquer quantidade de drogas ilícitas: “Qualquer princípio ativo de qualquer planta que seja útil para melhorar a saúde de alguém deve ser aplicado. E (devemos) fazer uma política de drogas que não seja uma política capenga, ou seja, liberar o uso sem prever de onde se adquirirá a droga. Isso não tem condição de ser estabelecido no Brasil”. 

Marcha da Maconha deste ano em São Paulo levou 100 mil às ruas, segundo organizadores
Marcha da Maconha deste ano em São Paulo levou 100 mil às ruas, segundo organizadores - Paulo Pinto/Agência Brasil

Há 15 anos nas ruas de São Paulo, a Marcha da Maconha denuncia proibicionismo e os efeitos nocivos da guerra às drogas. A última manifestação, em junho deste ano, teve a participação de cerca de 100 mil pessoas, segundo os organizadores. Atualmente, dezenas de cidades organizam manifestações Brasil afora. A ativista Diva Sativa ressalta a importância da presença dos moradores das periferias na mobilização: “É impossível você reunir 100 mil pessoas na rua se você não tem a periferia junto. Muitas vezes o primeiro ato político na vida de um jovem periférico é a Marcha da Maconha”, diz. 

 

Ficha técnica 

Reportagem: Thiago Padovan 
Produção: Thiago Padovan 
Apoio à produção: Acácio Barros 
Reportagem Cinematográfica: Alexandre Nascimento, Cadu Pinotti, JM Barboza e Pedro Gomes 
Edição de texto: Márcio Garoni 
Edição e finalização de imagem: Maikon Matuyama 
Arte: Caroline Ramos e Alex Sakata 
Tema musical: Ricardo Vilas 

 

Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil.

Criado em 04/10/2023 - 16:45

Últimas

O que vem por aí