Pauta:
Pelo acordo do Ministério da Saúde, médicos estrangeiros vão trabalhar em cidades que não foram escolhidas pelos médicos brasileiros. O programa recebeu um enxurrada de críticas das entidades de classe, de políticos de oposição e da mídia. Mas o espaço que o assunto ganhou nos meios de comunicação não foi utilizado para esclarecer o programa de saúde básica.
Os jornais foram pródigos em mostrar atitudes xenófobas, principalmente contra os cubanos. Na chegada dos profissionais em Fortaleza, eles foram vaiados e xingados por médicos brasileiros.
Nas redes sociais, atitudes corporativistas dos colegas brasileiros provocaram reações raivosas, como a da jornalista do Rio Grande do Norte que postou comentário preconceituoso e racista no Facebook sobre os médicos de Cuba. O episódio suscitou revolta entre os usuários.
Para debater o assunto, Alberto Dines recebe o médico Reinaldo Guimarães e os jornalistas Leonardo Sakamoto e João Domingos.
Editorial:
Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
No elenco da telenovela política “Mais Médicos”, a mídia não está entre os mocinhos, mas entre os vilões. Seu único desempenho positivo foi a publicação na capa da Folha da foto da vaia dos médicos cearenses na chegada dos colegas cubanos.
Caso raro de uma vaia sem som, apenas gestual, que escancarou as altas doses de histeria ideológica, corporativismo, xenofobia e até racismo na oposição à importação de médicos para atenuar as nossas carências.
Os quase cinco mil médicos cubanos não resolverão as dramáticas deficiências da saúde pública. Faltam quinze mil profissionais. O ideal seriam médicos brasileiros, mas mesmo médicos nascidos no sul, às vezes, têm dificuldade de entender expressões usadas pelos conterrâneos analfabetos nos grotões de miséria do Brasil profundo, onde “figo” significa fígado, “zóio” significa olhos, e assim por diante.
Nossos postos de saúde são geralmente precários, subequipados, sem medicamentos básicos, mas a carência essencial é de médicos. É com mais médicos que os problemas começarão a ser resolvidos. A mídia detestou a vinda dos cubanos por razões puramente ideológicas.
Se Israel há décadas exporta seus agrônomos e a Índia os seus especialistas em informática, por que ignorar que Cuba exibe altos índices em matéria de prevenção?
Todas as ciências são humanitárias, mas as ciências médicas representam a quintessência da solidariedade e do altruísmo. Tratá-la como matéria partidária é uma desumanidade.
Dos Telespectadores:
E-mails:
Rachel Pereira Barbosa
Alberto Dines, comecei a assistir ao programa e desisti de ver quando você disse que os médicos cubanos vieram para o Brasil porque quiseram, mas, na verdade, a família que ficou refém em Cuba desmente essa sua afirmação. Grata pela atenção.
Marcos Ziotti
Olá! Referente a esse assunto, é importante frisar que discute-se tudo: a política do PT, os detalhes da negociação Brasil x Cuba, a aparência do médico, preconceito e xenofobia. Não vi em nenhum momento, em nenhum veículo, discutirem os benefícios desse programa para a população. É lógico que, com mais médicos e maior concorrência, só quem ganha é quem precisa dos serviços médicos, que são muito precários no nosso país, seja pelo SUS ou pelo sistema de planos de saúde, que também é um sistema péssimo. Cabe a pergunta: será que os médicos e a imprensa não estão invertendo a ordem do que realmente é importante, que é a vida e o bem estar da população? Para mim, sim, e por um motivo simples: está havendo uma grande inversão de valores na nossa sociedade, o que deflagra uma questão ética na área médica, na imprensa e em muitos outros setores da sociedade.
Rafael Moura
Dr. Reinaldo, muito se questiona sobre a necessidade ou não dos médicos estrangeiros serem submetidos ao “Revalida” para participarem do “Mais Médicos”. Qual seu posicionamento sobre a questão?
Telefonemas:
Antônio Carlos, Rio de Janeiro – Autônomo
Há a possibilidade do governo cubano enviar médicos não tão qualificados para o Brasil e se aproveitar do dinheiro brasileiro?
Paulo Silvestre, Rio de Janeiro – Advogado
O Observatório está de parabéns mostrando o corporativismo dos médicos. Nunca o governo brasileiro enfrentou tão decididamente uma medida assim.
Vanessa Oliveira, Rio de Janeiro – Professora
A importação de médicos de outros países não vai resolver a questão problemática da saúde pública brasileira. Qual seria a melhor solução?
Maria Luiza, Miracema / TO – Professora
Não têm médicos aqui na região. Precisamos apoiar essa medida e atender a população que carece de saúde.
Lúcia Hellena, Vila Velha / ES – Educadora
Parabéns ao programa. Estou muito contemplada com a fala do Leonardo porque ele disse tudo o que eu falaria como brasileira.
Vagnete Rodrigues, Pacajá / PA – Lavradora
Sou a favor de exportar médicos porque os do Brasil nos tratam como animais. O atendimento é tão deficiente quanto o doente.
José Carlos, São Paulo – Agropecuarista
Ninguém falou ainda sobre o que precisa ser feito para melhorar o atendimento nos hospitais. Só se falou nos médicos. E a estrutura dos hospitais?
Assista na Íntegra:
Apresentação: Alberto Dines
Como assistir
Participe
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