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“Eu acreditei num sonho”, revela Adilson Dias

Ex-menino de rua, hoje, Adilson vive da arte

Impressões

No AR em 09/12/2019 - 21:00

Ele é um ex-menino vivendo em situação de rua que escapou da Chacina da Candelária para viver da arte. Um dos exemplos que mostram ser possível fugir da criminalidade para uma vida de realização, Adilson Dias superou a violência, a fome, as noites dormidas na rua e o torpor das drogas e mudou seu destino pela determinação. Em entrevista ao Impressões, ele conta a sua trajetória e revela como vive dos trabalhos que faz, hoje, como autor, diretor teatral e artista plástico.

“A arte pra mim é ar. É um fato. É o ar que eu respiro. Eu preciso estar me movimentando e criando o tempo inteiro”, diz.

Antes mesmo de completar 11 anos de idade, Adilson fugiu de casa para engraxar sapatos na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em uma tentativa de ajudar a família com algum dinheiro. “Eu ficava muito curioso para saber onda dava a linha do trem. E eu encontrei alguns amigos que engraxavam sapato e que voltavam com algum dinheiro, com algum recurso para ajudar a família de alguma forma. Então eu decidi juntar a fome com a vontade de comer. Eu ia conhecer o final da linha do trem e de alguma forma eu ia trazer alguma coisa para ajudar em casa”.

Adilson Dias é escritor, diretor teatral e artista plástico
Adilson Dias é escritor, diretor teatral e artista plástico - Divulgação/TV Brasil

Vindo de família numerosa que vivia na comunidade do Antares, zona oeste do Rio, Adilson guarda as memórias da infância cheia de dificuldades. “A fome na minha casa era só mais um membro da família. Não tinha comida no armário, não tinha comida na geladeira.”  E justifica: “Na rua eu tinha comida e tinha uma diversão diferente. Porque eu acho que nós, seres humanos, nós não temos só fome de comida, de alimentação. A gente tem outras fomes, outros sonhos, a gente quer ver coisas”.

Nesse caminho de superação, Adilson teve a sorte de contar com alguns anjos da guarda, como o diretor teatral Sérgio Britto, que serviu como uma espécie de mentor intelectual para ele. O jovem relembra, sorrindo, que conheceu Britto na porta do antigo Teatro Glória enquanto pedia para assistir a uma peça de Selton Mello. “Veio aquele velhinho de barba branca por trás de mim e falou assim: - Você quer um ingresso? E eu nunca imaginei na minha vida que pedindo ingresso na porta do teatro, ia aparecer o pai do teatro brasileiro, Sergio Britto, o monstro do teatro, e ia me oferecer um ingresso”.

Depois disso, os dois se tornaram amigos e Adilson passou a trabalhar para ele. “O Britto veio com aquela referência paterna. Me apadrinhou”, diz com carinho.

O artista Adilson Dias conta sua trajetória em entrevista a Katiuscia Neri
O artista Adilson Dias conta sua trajetória em entrevista a Katiuscia Neri - Divulgação/TV Brasil

Atualmente, depois de passar pelos centros culturais do Banco de Brasil de diversas cidades do país dirigindo a peça “Arandu, Lendas Amazônicas”, que conta as histórias de etnias indígenas passadas aos ribeirinhos, Adilson sonha com novos projetos e já pensa inclusive em escrever a sua própria história. Assunto este que sempre o emociona por mexer com as suas memórias mais intensas. “No período que eu convivi na rua, tudo era muito divertido, existia uma ingenuidade ali. Hoje, como artista, eu começo a perceber tantas poesias que eu vivi na rua, sabe?”, reflete.

E com imensa gratidão e consciência de tudo o que deixou em seu passado, Adilson conclui, com orgulho: “Eu sou um dos poucos brasileiros felizardos que pode abrir a boca e dizer: - Eu vivo de arte. Porque viver de arte é muito difícil. Mas eu acreditei num sonho. Eu prefiro acreditar no sonho e respirar o sonho com qualquer dificuldade que ele venha a me trazer, do que viver numa estabilidade que a gente nem sabe se é estabilidade”.

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Tags:  Adilson Dias

Criado em 06/12/2019 - 14:50

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