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Brumadinho e Mariana: a dor que não passa

Como está a vida das pessoas atingidas pelo desastre ambiental?

Caminhos da Reportagem

No AR em 25/01/2020 - 21:30

Há um ano o rompimento de uma barragem da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), deixou 270 pessoas mortas e uma cidade inteira abalada. Há pouco mais de quatro anos, Mariana, também em Minas Gerais, viveu outra tragédia ambiental de grandes proporções, quando a barragem da Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billiton, se rompeu e matou 19 pessoas. O Caminhos da Reportagem esteve em Brumadinho e em Mariana para mostrar como está a vida das pessoas que foram afetadas pelo rompimento das barragens da mineração. 

Caminhos da Reportagem vai a Brumadinho um ano após a tragédia
Caminhos da Reportagem vai a Brumadinho um ano após a tragédia - Divulgação

Em Brumadinho, os bombeiros continuam as buscas pelos últimos 11 corpos ainda não encontrados. Esta é a maior operação de resgate já realizada na história do Brasil. Nos números oficiais, são 270 mortes. Mas as famílias atingidas contam também os dois bebês de duas mulheres grávidas que morreram na tragédia, e divulgam o número de 272 mortos. 

Funcionária da Vale, Josiane Melo perdeu a irmã grávida, Eliane, na tragédia de Brumadinho
Funcionária da Vale, Josiane Melo perdeu a irmã grávida, Eliane, na tragédia de Brumadinho - Divulgação

Eliane Melo estava grávida de cinco meses. Ela trabalhava em uma empresa terceirizada que presta serviços para a Vale. Josiane Melo, uma das irmãs de Eliane, também é engenheira civil e funcionária da mineradora. Emocionada, desabafa: “Ela morreu trabalhando. No vídeo do rompimento, quando passa a barragem rompendo, tem um carro tentando fugir da lama, ela estava naquele carro. Então, a gente acredita que ela viu tudo. Essa imagem não sai da nossa mente”.

Natália de Oliveira também perdeu a irmã, Lecilda de Oliveira. Até hoje, vive a angústia de não encontrar o corpo da irmã e não poder encerrar um ciclo com o sepultamento. “Todas essas joias encontradas no decorrer do tempo, por um instante, eu pensei que poderia ser ela. Então, a gente vive essa expectativa no dia a dia”, diz Natália. “Joias” é como as famílias se referem aos restos mortais das pessoas que morreram naquele 25 de janeiro. Para sobreviver, Natália conta que está fazendo tratamento com psiquiatra e com psicólogo. “Agora para dormir a gente tem que tomar remédio, para a gente acordar e para a gente viver”. 

Natália de Oliveira ainda espera que os bombeiros encontrem o corpo da irmã Lecilda, em Brumadinho
Natália de Oliveira ainda espera que os bombeiros encontrem o corpo da irmã Lecilda, em Brumadinho - Divulgação

A Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), a pedido do Ministério da Saúde, vai monitorar as alterações nas condições de saúde dessa população a curto, médio e longo prazos. “A hipótese principal é que essa população vive o que a gente chama de estresse pós-traumático”, afirma o pesquisador da Fiocruz Sérgio Viana. De acordo com ele, existe uma alteração no perfil imunológico, na qualidade de vida e na saúde mental dessas pessoas. O secretário de Saúde de Brumadinho aponta que quase um ano depois da tragédia há um aumento de 400% na demanda por atendimento em saúde mental no sistema público de saúde da cidade.

Nossa equipe de reportagem esteve também em Mariana. Pouco mais de quatro anos depois do rompimento da barragem da Samarco, a população continua abalada e vive em situação provisória. “A gente vive uma vida imposta. A gente não consegue planejar. Porque esse processo vai adoecendo as pessoas. Eu, depois do rompimento, fiquei diabético, tomo três comprimidos de depressão e pressão alta”, conta o lavrador Marino D’Ângelo Junior.

“Já estamos há 4 anos sem saber quando a gente vai retomar nossa vida de volta”, acrescenta Marino.

A saúde mental dos atingidos pela barragem do Fundão, em Mariana, foi tema de uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo a psiquiatra Mayla Castro, que coordenou a pesquisa, 30% dos entrevistados estavam com depressão, um percentual cinco vezes maior que a média no país. “Até 82% dos adolescentes apresentavam algum sintoma de estresse pós-traumático, sendo que o principal sintoma encontrado era uma revivescência do momento da tragédia, então assim, eles tinham flashbacks de memória do que tinha acontecido ainda naquele dia, isso de fato pode se tornar muito incapacitante para a qualidade de vida das pessoas”, explica a pesquisadora. 

Bombeiros trabalham para encontrar vítimas da tragédia
Bombeiros trabalham para encontrar vítimas da tragédia - Divulgação

O Caminhos da Reportagem “Brumadinho e Mariana: a dor que não passa” vai ao ar no sábado, 25 de janeiro, dia em que completa um ano do rompimento da barragem em Brumadinho. O programa será às 21h30, na TV Brasil. 

Ficha técnica
Reportagem: Gracielly Bittencourt
Produção: Gracielly Bittencourt
Imagens: André Rodrigo Pacheco
Auxílio técnico: Alexandre Souza
Edição de texto: Flávia Lima
Edição de imagens e finalização: André Eustáquio

Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil.

Criado em 21/01/2020 - 14:05

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