Quarenta anos depois do primeiro caso confirmado de Aids, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu metas para acabar com a epidemia de Aids até 2030. O Caminhos da Reportagem desta semana vai contar histórias de quem vive com HIV, e mostrar como está a situação no Brasil, quais as possibilidades de prevenção e tratamento - e as dificuldades para acessá-las, além da expectativa por uma vacina contra o vírus.
O infectologista Ricardo Diaz acredita que temos os instrumentos para ver o desaparecimento de uma epidemia global e avançamos rapidamente para isso. Ariadne Ribeiro, assessora de apoio comunitário da Unaids, afirma que a instituição sonha em eliminar a Aids, porque se todas as pessoas vivendo com HIV tiverem seus tratamentos e quebrarem a cadeia de transmissão, não teremos novas infecções nem pessoas morrendo ainda em decorrência da Aids. Segundo o secretário de Vigilância à Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, o Brasil está caminhando para alcançar essa meta, que é uma meta ousada, mas possível.
Cazuza foi um dos primeiros artistas a falar publicamente sobre a Aids. A mãe do cantor, Lucinha Araújo, acredita que ele deixou, além de belas canções, a coragem de enfrentar a doença. “Ele falou ‘mamãe, quem canta Brasil mostra a sua cara não pode esconder a sua em um momento como esse’. E ele serviu também de exemplo para milhões de soropositivos mostrarem as suas caras”.
O jornalista Paulo Giacomini vive com HIV, está chegando aos 60 anos de idade e afirma que é uma idade que nunca imaginou alcançar. “Para mim é muito difícil chegar nessa idade e é muito difícil chegar com Aids nessa idade. Eu tinha sonhos que eu tive que enterrar. Por muitos anos eu fiquei esperando a morte”. Paulo faz acompanhamento de saúde no Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS de São Paulo.
A médica infectologista Rosa de Alencar é diretora adjunta do CRT e explica que quando a quantidade de vírus no organismo de uma pessoa é abaixo do nível que o exame consegue detectar, a carga viral se torna indetectável. “Quando acontece isso, se a pessoa está tomando remédio de forma regular, ela não transmite mais o vírus. Hoje o tratamento é também uma forma de prevenção”. Ariadne Ribeiro lembra ainda que a Aids acontece em decorrência ao não tratamento do vírus HIV. “Quando a carga viral de um indivíduo está indetectável, o vírus que existe dentro dessa pessoa não tem força para transmitir. Então a gente quebra a cadeia de transmissão e, quebrando a cadeia de transmissão, a gente elimina a Aids”.
No Brasil, 694 mil pessoas estão em tratamento e, ao fazerem tratamento, 95% delas são consideradas indetectáveis e não transmitem o HIV por via sexual. Como a escritora Thais Renovatto. Vivendo com HIV, Thais conta que depois que começou o tratamento e ficou nessa condição de indetectável, ela percebeu que havia uma doença biológica e uma doença social, em que há preconceito e desinformação. A escritora diz que algumas pessoas reclamam por ela falar de HIV de uma maneira muito leve. “Não estou banalizando a doença, mas na minha ótica, hoje, dá para se viver muito bem e tem muitas pessoas que vivem muito bem e que se escondem muito mais pelo estigma do que pela doença em si”.
O tratamento e as formas de prevenção evoluíram muito nos últimos 40 anos. Especialistas citam a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV) e a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) como ferramentas de impacto no controle da transmissão do HIV. E enquanto cientistas tentam achar a cura definitiva para a Aids e a ONU aposta que com os tratamentos disponíveis a Aids pode deixar de ser um problema de saúde pública em 2030, estudos clínicos para o desenvolvimento de uma vacina são realizados em todo o mundo.
Um desses estudos é o Projeto Mosaico, realizado no Hospital Emílio Ribas. Thiago Storari, estudante de Direito, não tem HIV e é voluntário da pesquisa. Ele conta que uma das motivações para fazer parte do estudo foi o fato de ter perdido um tio em decorrência da Aids. “No dia que foi confirmado que eu ia fazer parte do estudo, eu mandei no grupo da família e minha tia falou: ‘Que coisa gostosa isto, saber que onde meu irmão morreu por conta desse vírus, hoje o meu sobrinho tem a chance de ajudar a ciência a desenvolver um passo importante na prevenção contra o HIV”.
Ficha técnica:
Reportagem: Gracielly Bittencourt
Produção: Pollyane Marques
Apoio à produção: Julia Ballarini, Lisele Félix (TVE RS), Naiara Ribeiro e Priscila Kerche.
Imagens: André Rodrigo Pacheco, William Sales
Apoio às imagens: Cadu Pinotti, JK Marinho (TVE RS), João Marcos Barbosa, Rogerio Verçoza, Sigmar Gonçalves
Auxílio técnico: Rafael Calado
Colaboração técnica: Alexandre Sousa, Caio do Carmo, João Batista, Mauricio Marcelo, Rafael Carvalho, Raimundo Santos
Edição de texto: Flávia Lima
Edição de imagens e finalização: Rivaldo Martins
Arte: Eudes Lins e Julia Costa
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