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Vacina, infância protegida

Caminhos da Reportagem

No AR em 09/04/2023 - 22:00

“Dia 11 de junho é dia de vacina? É, sim senhor. É dia de festa no posto de saúde? É, sim senhor.” Esse é o texto de uma campanha estrelada pelo carismático Zé Gotinha, em meados dos anos 1990. O personagem, batizado em um concurso que mobilizou milhares de crianças, é o grande símbolo do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que completa 50 anos em 2023. O Brasil, no entanto, registra a pior taxa de cobertura vacinal em 30 anos: 3 em cada 10 crianças estão com as vacinas atrasadas.

Caminhos da Reportagem - 3 em cada 10 crianças estão com vacinas atrasadas
3 em cada 10 crianças estão com vacinas atrasadas - Divulgação/TV Brasil

O diretor do PNI, Eder Gatti ,explica que as taxas de vacinação se consolidaram nos anos 1990. Em 1994, o Brasil recebeu o certificado de zona livre da Poliomielite. No entanto, a partir de 2015 “nós começamos a registrar queda de cobertura em diversas vacinas. E isso foi piorando progressivamente até nós chegarmos no ano de 2022 com todas as vacinas com níveis abaixo do desejado.”

A baixa cobertura coloca o país e sobretudo as crianças em risco, uma vez que doenças já erradicadas podem retornar ao território brasileiro. “A partir do momento que você tem muitas crianças sem a imunização, qualquer doença que entrar nesse meio se espalha de maneira explosiva. A gente corre o risco, sim, de voltar a ver surtos de doenças que já tinham sido expulsas do país, por falta de vacinação”, alerta o biólogo e divulgador científico, Átila Iamarino.

Em 2019 o Brasil perdeu o certificado de zona livre de sarampo. Naquele ano, a administradora Verônica Nery contraiu a doença. A filha mais nova, então com 7 meses, também foi contaminada e ficou 30 dias na UTI. “Minha filha pegou porque outras pessoas não se vacinaram. E o sarampo voltou. Eu passei. Não perdi a minha filha por isso. Mas, infelizmente, outras pessoas devem ter perdido”, lamenta Verônica. Entre 2018 e 2021, 26 crianças perderam a vida para a doença.  

Caminhos da Reportagem - Com a falta de vacinação, doenças como a polio podem voltar
 Com a falta de vacinação, doenças como a polio podem voltar - Divulgação/TV Brasil

A queda da cobertura vacinal é complexa e envolve uma série de fatores. A pandemia de Covid-19 direcionou os esforços do SUS para o combate da doença; os pais evitaram sair de casa para vacinar os filhos; e a desconfiança lançada sobre as vacinas, bem como o discurso de autoridades, como o ex-presidente Jair Bolsonaro, estimularam o negacionismo. As fake news e os grupos antivax também entram nessa equação. Para agentes do sistema público de saúde, o importante agora é reconquistar a população brasileira. “Ao contrário de outros países, o Brasil nunca teve um percentual importante de população antivax. Ao contrário, o Brasil sempre teve uma enorme adesão da nossa população, sobretudo da parte das famílias em relação às vacinas”, afirma a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcolmo.

Para essa retomada, municípios como Campina Grande, na Paraíba, e a capital do país, Brasília, investem em levar a vacina de porta em porta. A ideia é retomar o vínculo e a confiança das pessoas. “A gente via que não era necessariamente algo contra a vacina, era simplesmente a dificuldade de acessar essa vacina”, esclarece Ramá de Oliveira Cardoso, coordenadora de Atenção Primária à Saúde do Distrito Federal. “Se a família ainda não está levando a criança para ser vacinada, a vacina tem que chegar na criança onde ela estiver: famílias ribeirinhas, quilombolas, indígenas. O SUS tem condições de fazer isso. Porque vacina tem”, complementa a chefe de Saúde e HIV do Unicef Brasil, Cristina Albuquerque.

Caminhos da Reportagem - Vacinas são seguras e salvam vidas
Vacinas são seguras e salvam vidas - Divulgação/TV Brasil

Último caso registrado de poliomielite no Brasil, Devison Rodrigues hoje é personal trainer e um grande defensor da vacinação. Ele tinha tomado 3 das 5 doses contra a doença e sobreviveu sem nenhuma sequela. Sua mãe acredita que o filho é um milagre. Da fé e das vacinas. “Foi uma conquista, né? Agradeço a Deus. Agradeço meus pais. Pretendo ser sempre, no Brasil, o último caso de pólio”, finaliza Devison.

Todas essas histórias serão contadas e o impacto da queda da cobertura vacinal no Brasil estarão no episódio Vacina, infância protegida, do Caminhos da Reportagem.

Ficha técnica:
Reportagem: Gracielly Bittencourt
Reportagem Cinematográfica: André Rodrigo Pacheco, Gilvan Alves, Jorge Brum
Produção: Claiton Freitas, Gracielly Bittencourt e Gabriela Castro (estagiária)
Apoio produção: Luiz Filipe Moreira (estagiário), Priscila Erthal Kerche, Guilherme Jeronymo, Camila Fregona
Auxílio técnico: Alexandre Souza, Thyago Pignata, Raimundo Nunes
Apoio imagem:  Alexandre Nascimento, Ana Oggioni, Gabriel Penchel, João Marcos Barboza, Manoel Lenaldo, Sigmar Gonçalves
Apoio auxílio técnico: Dailton Matos, Jone Geraldo, Wladimir Roger Ortega
Edição de texto: Francislene de Paula
Edição e finalização de imagem: André Eustáquio e Rivaldo Martins

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Criado em 04/04/2023 - 14:50

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