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Mães no cárcere

Caminhos da Reportagem

No AR em 26/11/2023 - 22:00

Quatro mulheres e tristes semelhanças: estão presas e são mães de crianças pequenas. O episódio Mães no cárcere, do programa Caminhos da Reportagem, aborda a maternidade atrás das grades e mostra a realidade dessas mulheres e como vivem seus filhos, longe das mães.

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Joana está grávida na prisão - Divulgação/TV Brasil

Ana* tem 7 filhos e Joana*, 6, mas está grávida do sétimo. Cumprindo pena na Penitenciária Feminina do Distrito Federal, as duas entraram para o tráfico de drogas por causa de companheiros. “Me envolvi com um rapaz com meus 12 anos, casei muito cedo e através dele eu conheci o tráfico”, conta Ana. Já Joana foi monitorada pela polícia: “eu acabei nas ligações de telefone, depósito de dinheiro, aí a polícia quebrou o sigilo com escuta telefônica e acabou que eu entrei em formação de quadrilha e tráfico de drogas”.

Das 27 mil mulheres presas no país, segundo dados do Sistema de Informação do Departamento Penitenciário Nacional (SISDEPEN), do Ministério da Justiça, 47,72% delas foram por tráfico de drogas. “Quando se olha em quais situações elas estavam, geralmente não estavam em posição de chefia ou comando no tráfico”, afirma Natália Oliveira, coordenadora executiva da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas. 

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Divulgação/TV Brasil

Acompanhando essa realidade de perto, a psicóloga da Penitenciária Feminina do Distrito Federal, Aline Xavier, confirma que a maioria das presas é formada por mulheres em situação de vulnerabilidade social. “A grande maioria é preta ou parda. No DF, a gente tem cerca de 80% da população carcerária feminina composta por pessoas negras, presas por tráfico e a maioria é mãe”, afirma.

Com o Marco Legal da Primeira Infância, de 2016, mães de crianças com até 12 anos têm a possibilidade de solicitar prisão domiciliar. Mas os dados mostram que isso não tem sido cumprido. Segundo análise do Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC), com dados do SISDEPEN, 83,64% das presas que poderiam ter o benefício tiveram o direito negado pela justiça.

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Divulgação/TV Brasil

Ana e Joana se enquadram nesse caso, mas tiveram o direito negado. Os 7 filhos de Ana estão sendo cuidados pela mãe dela, que está doente. “Eu aqui estou pagando, ela presa lá, eu presa aqui”, afirma a avó das crianças. Ela sobrevive apenas com o dinheiro do Bolsa Família, que não é suficiente para a comida toda do mês: “tem dia que olho para a geladeira e não tem nada”, conta.

A justiça negou a prisão domiciliar para Ana alegando que a filha mais velha dela, de 18 anos, poderia cuidar dos irmãos. Mas a avó da jovem explica que ela está na faculdade, conseguiu um emprego e tem ajudado no sustento da casa. “Nem a avó de 60 anos consegue cuidar das crianças e de um adolescente, imagina ela, que nunca foi mãe, nunca passou por isso” - questiona a avó.

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 ITTC afirma que 83,64% das mães presas que poderiam ter prisão domiciliar tiveram o benefício negado pela justiça - Divulgação/TV Brasil
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Juliana Arcanjo afirma que mães são julgadas mais severamente que homens - Divulgação/TV Brasil


A explicação para a violação dos direitos de crianças filhas de presidiárias, segundo a pesquisadora do ITTC Juliana Arcanjo, é evidente: o julgamento social. “Quando essa mulher foge do estereótipo do que se espera que seja uma mãe nos termos no senso comum, essa mulher é duplamente julgada. Ela é mais julgada ainda porque ela não só feriu uma lei, ela também feriu uma norma social gravíssima, que é o que é ser mãe”, afirma.

O programa ainda aborda outras questões, como os preconceitos sociais também invadem os tribunais de justiça nos julgamentos dos casos e as limitações do uso de tornozeleira por mães que precisam acompanhar seus filhos. O episódio Mães no Cárcere, do Caminhos da Reportagem, vai ao ar no domingo (26/11), às 22 horas, na TV Brasil.

* Nomes fictícios

Ficha técnica
Reportagem: Ana Graziela Aguiar
Produção: Cleiton Freitas
Apoio produção: Thiago Padovan (SP)
Reportagem cinematográfica: André Rodrigo e Sigmar Gonçalves
Apoio imagens: Gilmar Vaz (SP) e Cadu Pinotti (SP)
Auxiliar técnico: Alexandre Souza e Rafael Calado
Apoio auxílio: Raimundo Nunes e Jone Geraldo (SP)
Edição de texto: Carina Dourado
Edição de imagens: Rivaldo Alves e Márcio Stuckert
Arte: Caroline Ramos e Alex Sakata

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Criado em 21/11/2023 - 18:35

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