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Entrevista com a cantora Titica, a rainha do kuduro

Na semana da Consciência Negra, angolana relembra sua trajetória

Conversa com Roseann Kennedy

No AR em 20/11/2017 - 21:30

Ela é a rainha do kuduro e a primeira cantora a assumir a transexualidade em Angola. Titica é querida pelas crianças e se tornou um ídolo pop em seu país mesmo diante do conservadorismo. Hoje, faz grande sucesso também fora da África. No Brasil, esteve no palco Sunset do Rock in Rio, onde, junto com o grupo BaianaSystem, misturou o som africano do kuduro com o ritmo de Salvador.

Titica, que chegou a sofrer com a discriminação no início da carreira, relembra sua trajetória marcada pela violência. Ela conta que quando tinha 20 anos era obrigada a esconder o seu jeito de andar, que é mais feminino. “15 anos atrás, apedrejavam, batiam. Eu já fui apedrejada, já me deram com garrafas na cabeça.” Por isso, muitas vezes foi obrigada a esconder quem realmente era.

Roseann Kennedy entrevista a cantora Titica

Roseann Kennedy entrevista a cantora Titica - Divulgação

Sobre o preconceito que ela teve que enfrentar, desabafa: “As pessoas homofóbicas são cegas. Você consegue se impor, falar com uma pessoa que é homofóbica, que não te conhece... Falar bem, mostrar quem você é... Mostrar que não é um bicho de sete cabeças e mudar a mente dela”. Para Titica, nesses tipos de situação, nunca convém partir para o enfrentamento. “Eu acho que as ações das pessoas têm que falar mais alto, não precisa bater de frente e sim agir.”

Nascida na periferia de Luanda, de onde vem também o kuduro, Titica lamenta que a música e a dança ainda sejam marginalizadas e criticadas por algumas pessoas. O ritmo que significa “bumbum duro”, faz referência aos movimentos corporais da coreografia. “O kuduro ainda é muito marginalizado em Angola, já foi mais. A princípio, por causa da nossa forma de nos apresentar, de falar, porque não seguimos o padrão da sociedade”. Para ela, alegria e o ritmo do kuduro é o que aproximam o público.

Titica sempre gostou de arte e apostou em várias profissões, sempre com a mesma determinação. “Nasci para brilhar e de qualquer jeito vou ser famosa”, afirma. Ela tentou ser modelo, atriz e foi bailarina durante muitos anos. Hoje, se orgulha de sua carreira. “Fui considerada a melhor bailarina do kuduro, porque eu dançava e levantava o público como se fosse cantora. Acho que já tem uma estrela em mim”. Só depois, a música entrou em sua vida.

“Nasci para brilhar”, diz Titica, cantora trans angolana

“Nasci para brilhar”, diz Titica, cantora trans angolana - Divulgação

A artista se diz fã da música brasileira e gosta da cantora Alcione e do Nego do Boréu. Depois de gravar a música “Capim Guiné” com o grupo BaianaSystem, conhecido pelas letras e músicas politizadas, a artista trans tem o sonho de gravar com a Pabllo Vittar e unir o Brasil e a África numa luta contra o preconceito. “Adoro parcerias onde a gente aprende mais, com a troca de música, países a países. É um intercâmbio muito bom.”

Sobre suas aspirações, a cantora diz que pretende levar o seu nome aos quatro cantos do mundo e continuar sendo uma mulher de sonhos. Ao Brasil deixa um agradecimento especial e, em tom de brincadeira, se despede sem dar chance aos olhares invejosos. “Obrigada Brasil por ser receptivo comigo. Eu continuarei sendo a Titica que aguenta tudo e não tem medo de nada. Que bate na madeira e seca todo mau olhado.”
 

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Criado em 17/11/2017 - 11:40

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