Numa sociedade feito a nossa, como os ódios do passado ecoam no presente? E como os ódios do presente misturam-se com os do passado? Orestes, do diretor Rodrigo Siqueira, é um documentário misturado com ficção, que tece uma obra complexa e reflexiva sobre a ditadura militar no Brasil.
O filme é uma livre adaptação da tragédia grega Orestes de Ésquilo, entrecruzada e atualizada com a história do período em que os militares comandavam o país.
O filme retrata a trajetória de Ñasaindy de Araújo Barret, filha dos militantes de esquerda José Maria Ferreira de Araújo e Soledad Barrett Viedma. Após a morte de José Maria (1970), Soledad teve um relacionamento amoroso com Cabo Anselmo, agente duplo da ditadura. Ele depois viria a delatá-la e participou do episódio que levou a sua morte, junto com cinco outros militantes, no ataque que ficou conhecido como Massacre da Chácara São Bento (1973).
A dor de Ñasaindy se junta a de outro militante da esquerda sobrevivente do DOI-Codi. E a de famílias das novas vítimas da repressão policial – garotos jovens, na maior parte das vezes negros e pobres, que caem sob a bala da polícia.
O longa também conta com uma boa dose de ficção quando um júri simulado entra em cena para investigar como a ditadura militar deixou marcas profundas nas narrativas oficiais e na subjetividade dos brasileiros.
Este recurso narrativo remete à tragédia grega de Ésquilo e promove o seu encontro com a história do Brasil. Na trilogia grega Oresteia, o personagem Orestes mata a mãe para vingar a morte do pai. No julgamento que vemos no documentário, dá-se o inverso.
Vencedor do Festival É Tudo Verdade em 2010, com o surpreendente Terra Deu, Terra Come, Rodrigo voltou com grande vigor ao festival em 2015 com Orestes. Mostrou que a violência e o ódio no nosso país são eventos com muitas implicações.
Saiba mais sobre o longa no Revista do Cinema Brasileiro desta quarta-feira, dia 4, às 23:30.
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