Já pensou em como é a vida e como está a saúde daqueles que cuidam dos pais idosos, dos filhos que estão doentes ou de quem tem alguma deficiência? Esta edição do Caminhos da Reportagem retrata a importância do trabalho das pessoas que se dedicam a cuidar de alguém.
No mundo inteiro, o cuidado ainda tem rosto de mulher, já que 75% das pessoas que cuidam são meninas ou mulheres. A pesquisa Tempo de Cuidar, publicada pela Oxfam, mostrou que 42% delas têm dificuldade de encontrar trabalho porque se encarregam de alguém da família.
Com o envelhecimento da população e a redução do tamanho das famílias, a questão do cuidado também traz um impacto econômico. Se as cuidadoras informais fossem remuneradas, esse mercado poderia movimentar três vezes mais dinheiro do que a indústria de tecnologia, ainda de acordo com a pesquisa. O aumento da demanda também faz crescer a procura por cuidadores profissionais. No Brasil, por exemplo, essa é a profissão que mais cresce. Nos últimos dez anos, o número de cuidadores profissionais aumentou 547%.
A pandemia provocada pela Covid-19 tem exigido ainda mais cuidado e transformado as rotinas em casa. Essa reportagem é resultado de histórias de cuidadoras que mostram parte das suas atividades, falam sobre preocupações, dificuldades, medos e angústias. Elas também se abrem para contar dos vínculos, conquistas, afeto e amor.
Berna Almeida transformou a dor da perda em um projeto de cuidadores voluntários. Com a morte da mãe, de quem cuidou por sete anos, a sensação de vazio foi amenizada por uma rede de solidariedade. “Ou eu ficava de cama ou eu fazia alguma coisa. Foi aí que surgiu o projeto Conte Comigo. A pessoa vai na sua casa e pode doar o tempo que ela quiser – uma hora, duas, três, quatro. Você quer ir lá só pra conversar? Vai lá só pra conversar. Quer ajudar a dar um banho? Vai lá ajudar a dar um banho”, explica.
“Uma coisa que ajuda humanos em geral, seja cuidador, seja paciente, seja profissional, é pedir ajuda. A gente tem a sensação de que precisa ser autossuficiente. E muitas vezes, na hora em que a gente consegue pedir ajuda, a gente consegue ter mais chances de resolver problemas”, afirma o médico intensivista e paliativista Daniel Neves Forte. O adoecimento de cuidadores muitas vezes passa despercebido. “Isso é uma questão muito séria, porque a gente percebe o quanto de desgaste eles têm em relação a esses cuidados. Muitos deles são idosos cuidando de outros idosos”, lembra Andrea Faustino, do Núcleo de Estudos da Terceira Idade da Universidade de Brasília.
Foi com o apoio de outras famílias e com ajuda psicológica que Jéssica Guedes se fortaleceu para cuidar das filhas. Rafaela, a mais nova, tem uma doença rara e depende de Home Care, uma internação domiciliar. Com o auxílio da psicóloga, Jéssica formou um grupo terapêutico para mães de crianças com doenças raras. “O grupo é um tempo para eu cuidar de mim, da minha qualidade de vida, da qualidade de vida das minhas filhas e pensar que a gente pode viver mais leve”, diz Jéssica.
Segundo a médica geriatra Ana Cláudia Arantes, muitas vezes o cuidador está tão atento à pessoa que cuida, que deixa de cuidar de si mesmo. “Ele só olha para a pessoa que ele cuida. É necessário que as pessoas se coloquem ao lado daquele que cuida a ponto de propiciar que ele descanse”.
Ficha técnica
Reportagem: Gracielly Bittencourt
Produção: Gracielly Bittencourt e Pâmela Maria (estagiária)
Apoio à produção: Darly Martins (TVE Bahia), Bianca Vasconcellos (SP) e Everton Siqueira Gomes (estagiário)
Imagens: André Rodrigo Pacheco
Apoio às imagens: Alexandre Silva, Eduardo Viné (SP), Jackson Carvalho (TVE Bahia), João Marcos Barboza, Osvaldo Alves e Sigmar Gonçalves
Auxílio técnico: Alexandre Souza, Daílton Matos e Edivan Viana
Colaboração técnica: Caio Araújo e José Carlos Soares
Edição de texto: Suzana Guimarães
Edição de imagens e finalização: Jerson Portela
Arte: Julia Costa
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