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Saúde mental bem longe dos manicômios

Caminhos da Reportagem

No AR em 21/05/2023 - 22:00

Quem vê Patrícia Ruth pintando calmamente seus quadros nem imagina os horrores que ela já sofreu. Encarcerada em reformatórios e manicômios desde a infância, recebeu castigos físicos, contenções e chegou a passar por eletrochoques. Ao longo de décadas isolada em hospitais psiquiátricos, perdeu os laços familiares e até a identidade. 

Patricia Ruth - da vida encarcerada ao sucesso como artista plástica
Patricia Ruth - da vida encarcerada ao sucesso como artista plástica, por Divulgação/TV Brasil

Foi com o início da Luta Antimanicomial no Brasil que, aos poucos, trajetórias como a de Patrícia ganharam novos rumos. Ela, que foi uma das pacientes da antiga Colônia Juliano Moreira, último manicômio a ser fechado no Rio de Janeiro, hoje é uma artista plástica reconhecida. “Mudou muita coisa para mim. Coisa que não tinha e nunca esperava ter, minha casa.  Esses trabalhos que eu faço hoje são o meu ouro porque eu vendo e faço exposição para fora”, comemora Patrícia.
 
O Caminhos da Reportagem desta semana mostra os avanços da Luta Antimanicomial no Brasil e acompanha pacientes psiquiátricos que passaram por internações de longa duração e retornaram à vida fora dos muros das instituições. 

O movimento da sociedade civil lançado no fim dos anos 1970 critica os métodos tradicionais da psiquiatria e defende os direitos das pessoas em sofrimento psíquico. “A luta contra os manicômios é uma luta pela cidadania, uma luta pelo reconhecimento das pessoas com fragilidade, a superação da ideia de que existem pessoas com menor valor. Então, tudo entra nesse jogo: racismo, LGBTfobia e qualquer forma de discriminação”, afirma Hugo Fagundes, superintendente de Saúde Mental do município do Rio de Janeiro.

Instituto Nise da Silveira - arte no lugar das antigas enfermarias
Instituto Nise da Silveira - arte no lugar das antigas enfermarias - Divulgação/TV Brasil

Com a aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica, em 2001, houve uma redução programada de leitos psiquiátricos no Brasil.  De acordo com a ONG Desinstitute, o número de pacientes internados em longa duração caiu de 50 mil, em 2002, para menos de 14 mil, em 2020.  Evitar retrocessos ainda é um desafio para os defensores da Luta Antimanicomial, segundo a presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental, Ana Paula Guljor. 

O fechamento de manicômios não é sinônimo de falta de atendimento aos pacientes e seus familiares. O cuidado em liberdade, mantendo o paciente integrado ao seu território de origem, seu círculo social, é o mais eficaz, garante Guljor. 

Residência terapêutica no Rio de Janeiro -cuidado em liberdade
Residência terapêutica no Rio de Janeiro -cuidado em liberdade - Divulgação/TV Brasil

Entre os mecanismos de apoio aos pacientes, além dos Centros de Assistência  Psicossocial (CAPs), que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), estão as Residências Terapêuticas, uma espécie de república - para no máximo seis pessoas - oferecida aos egressos dos hospitais psiquiátricos que ainda necessitam de algum suporte para retornarem à vivência comunitária. A equipe do Caminhos da Reportagem foi conhecer a rotina de uma dessas casas. 

“Existem mil outras formas de se cuidar, de se tratar a loucura, o sujeito em sofrimento psíquico”, defende Erika Pontes e Silva, diretora do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira.  Oficinas de arte e atividades em hortas comunitárias são exemplos de terapias adotadas nas antigas instituições psiquiátricas que foram remodeladas. 

Horta comunitária no Museu Bispo do Rosário
Horta comunitária no Museu Bispo do Rosário - Divulgação/TV Brasil

O programa mostra como locais de encarceramento e sofrimento no passado hoje são espaços dedicados à arte e ao tratamento com afeto e liberdade, como o Museu Bispo do Rosário e o Instituto Nise da Silveira, ambos no Rio de Janeiro. 

Ficha técnica

Produção e reportagem: Clarice Basso
Reportagem cinematográfica: Gabriel Penchel, Gilson Machado, Marcelo Padovan, Ronaldo Parra e Sandro Tebaldi
Auxílio técnico: Adaroan Barros, Caio Araujo e Yuri Freire
Apoio à produção: Luiz Filipe Salvador - estagiário
Roteiro: Ana Passos e Clarice Basso
Edição de texto: Ana Passos
Edição de imagem e finalização: Eric Gusmão
Arte: Julia Gon e Marco Bravo
Pesquisa do Acervo EBC: Aline Brettas, Erick Pinheiro, Fabio Araujo Jorge, Fernanda Buarque, Mariana Nazareth, Pedro Modesto e Thiago Guimarães

Clique aqui para saber como sintonizar a programação da TV Brasil.

Criado em 18/05/2023 - 17:25

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