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O valor do lixo

Caminhos da Reportagem

No AR em 26/05/2024 - 22:00

O Brasil recicla apenas 4% de todos os resíduos sólidos que gera anualmente. Em 2022, o Brasil produziu cerca de 82 milhões de toneladas de lixo, o que corresponde a 224 mil toneladas por dia. Isso significa que cada cidadão produziu, em média, pouco mais de 1 quilo de resíduos por dia. Os dados são do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, publicação da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

O Caminhos da Reportagem dessa semana vai mostrar iniciativas de negócios que utilizam o lixo como matéria-prima e fonte de renda. O programa traz uma tecnologia inovadora, desenvolvida pela Universidade de Brasília, que permite a reciclagem de bitucas de cigarro, transformando-as em celulose e, consequentemente, em papel. Marcos Poiato, dono da empresa Poiato Recicla, se interessou pela tecnologia há mais de dez anos e implementou uma usina de reciclagem de bitucas em Votorantim, no Estado de São Paulo. Hoje ele atende mais de 700 clientes, recolhendo as pontas de cigarro, reciclando e fornecendo a massa celulósica para aplicações variadas, como a produção de velas e papel reciclado.

Caminhos da Reportagem - Valor do lixo - A correta segregação do lixo é fundamental para o sucesso da reciclagem nas cooperativas.
A correta segregação do lixo é fundamental para o sucesso da reciclagem nas cooperativas., por Divulgação/TV Brasil

Outra história inovadora é a da empresa baiana Reparô, criada por Luciana Luz e seu filho Lucas, que desenvolveram uma tecnologia que transforma isopor em uma massa modelável, utilizada para fazer reparos variados, tanto em metais, quanto em madeiras e outros materiais.

Para Juliana Borges, analista de competitividade do Sebrae, a Reparô é um exemplo de pequena empresa que encontrou uma solução inovadora para um desafio complexo. “A Reparô hoje ela está crescendo, tem buscado investidores, e eu acho que ela é uma das empresas que a gente vai se orgulhar muito de ser uma iniciativa brasileira na solução de problemas complexos, como a questão do isopor”.

Fernanda Romero, Gerente de Políticas para Químicos do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), ressalta a importância financeira da reciclagem de resíduos sólidos. “Uma vez adotadas as práticas de reuso, recuperação, reparo, remanufatura, a gente pode gerar um lucro líquido anual na ordem de 100 bilhões de dólares”.

Orgânicos

Ou seja, o que é lixo para alguns, é matéria-prima para outros. O empresário Micael Cobelo, por exemplo, fez da compostagem de lixo orgânico o seu ganha-pão. Ele e um amigo criaram a empresa Ecoar, que faz a coleta do lixo orgânico em residências.

“A gente disponibiliza um kit para fazer a separação dos resíduos, que é um baldinho de 16 litros, mais uma sacola compostável, além de serragem para evitar o mau cheiro. E fazemos a coleta uma vez por semana. Depois da coleta, a gente leva para o nosso pátio de compostagem, onde utilizamos o método termofílico (que utiliza temperaturas elevadas para a decomposição dos materiais). Então a gente consegue compostar tanto cozidos, carnes, cítricos, que são matérias orgânicas não compostadas nos minhocários domésticos”, explica Micael.

Caminhos da Reportagem - O valor do lixo - A compostagem dos resíduos orgânicos é feita pela empresa Ecoar. Os orgânicos representam cerca de 65% de todo o lixo produzido.
A compostagem dos resíduos orgânicos é feita pela empresa Ecoar. Os orgânicos representam cerca de 65% de todo o lixo produzido., por Divulgação/TV Brasil

Andréa Almeida, chefe da Unidade de Medição e Monitoramento do Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), explica que, de todo o quantitativo de resíduos sólidos gerados, aproximadamente 65% é de resíduos orgânicos, 25% de recicláveis (plástico, papel, vidro e alumínio) e 10% de rejeitos (papel higiênico, absorventes, fraldas, máscaras de proteção, etc).

Andréa ressalta a importância desse trabalho de reaproveitamento dos resíduos para o meio ambiente e a vida útil dos aterros sanitários. Ela explica que, quanto menos lixo for enviado para os aterros, mais tempo eles duram, reduzindo a necessidade de criação de novos aterros.

“Nós recebemos cerca de 500 toneladas por dia chegando no aterro sanitário. E esse material, se fosse segregado na fonte, na casa das pessoas, ele não chegaria ao aterro sanitário. Interessante dizer também, por mais que você faça a separação, se você fizer ela incorreta, misturar o orgânico com o seletivo, você perde esse material. Ele vai chegar lá nos nossos catadores, no nosso centro de triagem, vai simplesmente passar pela esteira e ele vai como rejeito para o aterro sanitário. Ou seja, ele só passeou”, conta Andréa.

Eletroeletrônicos

A reciclagem de eletroeletrônicos é um dos negócios da Programando o Futuro, no Distrito Federal. Fábio Oliveira Paiva é coordenador financeiro da Organização da Sociedade Civil, que foi criada há 23 anos, inicialmente como um projeto de inclusão digital para jovens. O negócio foi evoluindo e, como conta Fábio, o que era uma ideia para capacitar as pessoas, acabou por se tornar um projeto dedicado à destinação correta do eletroeletrônico.

“No desenvolvimento do processo, a gente começou a receber doações de empresas, de órgãos públicos, e boa parte das coisas não tinham condições de funcionamento. Então, em vez de resolver um problema, ajudar as pessoas, a gente começou a criar um problema para nós mesmos. O que a gente vai fazer com esse tanto de equipamento que não tem serventia? Não pode jogar no lixo, não pode jogar na rua, o lixeiro não vai levar... e começou a acumular. Foi quando verificamos que parte desses equipamentos, que não têm condições de uso, têm um valor mensurado dentro deles, que podem ser revertidos para as atividades da entidade”, conta Fábio.

Caminhos da Reportagem - Valor do lixo - A separação de componentes eletrônicos para reciclagem é parte do negócio da Programando o Futuro
A separação de componentes eletrônicos para reciclagem é parte do negócio da Programando o Futuro - Divulgação/TV Brasil

Hoje a empresa desmonta os equipamentos que não têm condições de uso, separa as partes de acordo com o material, e dá a destinação correta. Os plásticos, por exemplo, são triturados e vendidos para empresas que fazem a reciclagem desses materiais – serviço fundamental para estender a vida útil do plástico, evitando a retirada de mais petróleo da natureza.

O nome disso é Economia Circular, um conceito que une o desenvolvimento econômico à sustentabilidade, por meio de novos modelos de negócios e da otimização nos processos de fabricação com menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis.

Ficha Técnica:

Reportagem - Marieta Cazarré
Apoio à reportagem - Ana Graziela Aguiar e Valter Lima
Produção - Cleiton Freitas e Patrícia Araújo
Apoio à produção - Railson Oliveira
Reportagem cinematográfica - Sigmar Gonçalves e Rogério Verçoza
Apoio à reportagem cinematográfica - Jorge Brum, Alexandre Nascimento e Rhamidfan Cardoso
Auxílio técnico - Alexandre Souza e Marcelo Vasconcelos
Apoio ao auxílio técnico - Jairom Rio Branco, Raimundo Nunes, Edivan Nascimento, Jone Ferreira, Léo Souza
Edição de texto - Marieta Cazarré
Edição e finalização de imagem - Rivaldo Martins e Márcio Stuckert
 

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Criado em 24/05/2024 - 14:20

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