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Trabalho é para pessoas, com ou sem deficiência

Caminhos da Reportagem

No AR em 17/04/2022 - 22:00

Criada há três décadas para assegurar a inclusão no mercado de trabalho brasileiro, a lei de cotas tem realmente dado oportunidades, mas ainda enfrenta desafios para ser amplamente cumprida.

No país, as empresas com cem funcionários ou mais são obrigadas pela lei a destinar vagas para pessoas com deficiência. Atualmente, cerca de 372 mil profissionais com deficiência estão empregados na Administração Pública, em empresas públicas e sociedades de economia mista e nas empresas privadas, o que representa uma ocupação de apenas 53% das vagas reservadas. 

Em municípios menores, as chances de postos formais são mais reduzidas, porque os pequenos negócios da economia local não estão sujeitos à obrigatoriedade de reserva de vagas.

Na Ilha de Marajó, pessoas com deficiência encontram renda em trabalhos informais e artísticos
Na Ilha de Marajó, pessoas com deficiência encontram renda em trabalhos informais e artísticos - TV Brasil

Neste domingo (17), o Caminhos da Reportagem vai mostrar a realidade de pessoas com deficiência que vivem nos municípios de Soure e Salvaterra, que ficam na ilha de Marajó, no Pará.

Há 23 anos a frente da Associação de pais, amigos e deficientes de Soure, Derci Pereira ressalta que a maioria das atividades feitas por essas pessoas ainda é informal. "Temos aproximadamente 200 associados com todos os tipos de deficiência, física, auditiva, visual, síndrome de down." Ela conta que muitos deles fazem doces caseiros e bordados, que além de preservar a cultura marajoara trazem renda para as famílias.

O secretário nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Claudio Panoeiro, reconhece que “a grande debilidade se dá fundamentalmente nas empresas de médio e pequeno porte, principalmente em municípios menores”. Uma das propostas em andamento, segundo o secretário, é um protocolo de intenções com a Associação Brasileira de Supermercados, responsável por 94 mil estabelecimentos espalhados por todo o Brasil. Uma oportunidade de gerar empregos para pessoas com deficiência em todas as partes do território nacional.

Davi Pontes já foi até a última etapa de um processo seletivo, mas perdeu a vaga por usar cadeira de rodas
Davi Pontes já foi até a última etapa de um processo seletivo, mas perdeu a vaga por usar cadeira de rodas - TV Brasil

Mesmo em Belém, capital paraense, onde há um pouco mais oportunidades, o professor de educação física Davi Pontes relata que já foi desclassificado de processos seletivos de trabalho por ser usuário de cadeira de rodas. Mas não desanima: "a gente tem que continuar batendo na porta, porque uma hora ela vai abrir".

Por outro lado, São Paulo concentra um maior número de exemplos positivos. A Natura&Co tem 7% dos colaboradores com algum tipo de deficiência, um índice maior que os 5% impostos pela lei no caso de empresas deste porte. Aline Borges, uma jovem com paralisia cerebral, trabalha na Natura há anos. "Eu quero chegar algum dia num cargo de liderança e quem sabe me tornar uma vice-presidente! E também desejo que a inclusão no Brasil, de fato, aconteça. Mas que seja algo natural", projeta Aline.

Carolina Ignarra, da Talento Incluir, já conseguiu mais de oito mil vagas para pessoas com deficiência
Carolina Ignarra, da Talento Incluir, já conseguiu mais de oito mil vagas para pessoas com deficiência - TV Brasil

Também em São Paulo, Carolina Ignarra traz outro caso de avanço. Ela criou a Talento Incluir, que já ajudou a empregar mais de 8 mil profissionais com deficiência. Na análise da CEO, "por causa da lei, as empresas querem contratar pessoas com deficiência, mas não sabem como fazer. E percebi que a minha história poderia ajudá-las a olhar para a pessoa a partir do perfil e a deficiência ser acomodada junto".

Para vencer os desafios que ainda travam a inclusão, o Brasil tem investido na troca de experiências com o programa EUROsociAL+. Para o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ibáñez, a lei de cotas precisa se somar às medidas afirmativas, que “buscam justamente colocar as vantagens que as empresas e o setor público vão ter tendo pessoas com deficiência trabalhando com eles”.

Milena Buosi, gerente de diversidade, equidade e inclusão da Natura&Co, cita uma grande vantagem: "tendo aqui entre os colaboradores diferentes pessoas, com diferentes histórias de vida, mais próximo a gente tende a estar das nossas consultoras de beleza e dos nossos consumidores que refletem a sociedade".

Para vencer desafio da inclusão, Brasil tem investido na cooperação com União Europeia
Para vencer desafio da inclusão, Brasil tem investido na cooperação com União Europeia - TV Brasil

Uma das experiências mostradas pelo EUROsociAL+ ao governo brasileiro é a do Grupo Once, na Espanha, que surgiu de uma organização de cegos criada há 80 anos. Hoje, o grupo tem uma fundação e um conjunto de empresas sociais. É o quarto maior empregador espanhol, com 73 mil trabalhadores, dos quais 60% têm alguma deficiência.

“A partir das experiências dos outros, e isso foi um trabalho fundamental do EUROsociAL+ , nós podemos construir um modelo que supere as fraquezas dos modelos anteriores, que corrija as imperfeições identificadas”, destacou o secretário nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Claudio Panoeiro.

 

A versão do programa  com audiodescrição pode ser acessada clicando AQUI

 

Ficha técnica

Reportagem: Flavia Peixoto

Produção: Claiton Freitas

Imagens: André Rodrigo Pacheco

Auxílio técnico: Marcelo Vasconcelos

Edição de texto: Cintia Vargas

Edição de imagens e finalização: Jerson Portela

Apoio à produção: Julia Ballarini e Pablo Mundim

Apoio às imagens: Gilmar Vaz e Carlos Eduardo Pinotti

Apoio operacional: Jone Ferreira e Eduardo Domingues

Arte: André Maciel

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Criado em 14/04/2022 - 16:30

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